Cohen nunca esteve tão na moda.
As hordas de cristãos-novos deliciam-se com as traduções de
poemas seus ( vertidos para canções ou não ) as quais surgem todos os dias, em
catadupas.
A propósito deste frenesi, que suspeito mais de cariz mercantilista
que genuinamente cultural, recordei-me de “59 Canções de Amor e Ódio, e um poema sobre
Portugal” publicado pela Fenda / Centelha em 1985. A introdução e tradução são responsabilidade de José Alfredo Marques.
“Os Barcos de Guerra”
( The Warrior Boats )
"De Portugal os barcos de guerra contorcem-se no cais,
expondo seus vigamentos.
Gerações de gaivotas caem
através dos esqueletos de madeira.
Na cidade os belos marinheiros mortos,
intacta a sua paixão,
vagueiam pelos becos desbaratando poemas e moedas gastas.
Garbosos bastardos!
Que lhes interessa o Império reduzido a metade de uma
península,
a Rainha tendo o
conselheiro régio como sétimo e último amante?
Os seus mapas não mudaram.
As coxas ainda são brancas e quentes.
Novas fronteiras não alteraram a maravilhosa paisagem dos
seios.
Nenhum congresso relegou a boca rubra para um distrito longínquo.
Por isso deixai os barcos apodrecer no limite da terra!
As gaivotas hão-de encontrar outro sítio para morrer.
Deixai as metrópoles portuárias vestir luto
e insignificantes funcionários que preencham os papéis
necessários.
Mas, vós, fazei as malas meus inimigos marinheiros!
Ide vagueando pelos becos desbaratando os vossos poemas e
moedas gastas.
Ide batendo em todas as janelas da cidade.
Em algum lugar encontrareis o meu amor, adormecida e
esperando.
E mal posso saber há quanto ela sonha com todos vós.
Levantai suavemente o
meu casaco dos seus ombros."
( “The Warrior Boats” foi
publicado no primeiro livro de Leonard Cohen – “Let Us Compare Mythologies”
– em 1956 )