“Everybody’s
losing someone / It’s a long way to find peace of mind, peace of mind / And i’m
just waiting now for my time to come /
For peace to come” ( Nick Cave, “Hollywood”, “Ghosteen” )
Cheguei tarde
a “Ghosteen”. Propositadamente.
O ruído que se gerou em redor da sua publicação foi
excessivo, quase tonitruante e, quando tal sucede, a prudência ( e sobretudo a
experiência ) aconselham-me a esperar que a poeira assente ou que a espuma se dissipe.
Fiz bem porque ao contrário do habitual, a primeira impressão
não foi a melhor; muito provavelmente porque as artificiais vagas de
unanimidade têm o efeito exacerbar o meu cepticismo endémico.
Um par de meses e várias audições depois, liberto de qualquer
pressão, concluí que Nick Cave não criando um disco de canções em sentido
estrito, produziu um conjunto de extraordinárias peças musicais. Claramente um “grower”,
“Ghosteen” toca o píncaro idiossincrático ( tanto do autor como do ouvinte ) assumindo-se
como uma comovente banda sonora dos sentidos.
De Cave em primeiro lugar. De todos os que predispõem a
escutá-lo com a devida atenção no imediato. Porque aquelas amplas paisagens
sonoras ( David Sylvian em tempos também habitou espaços semelhantes ) hipnotizam, tocam para além do imaginável. Por seu turno e sem
permissão, as palavras / imagens invadem a privacidade da mente. Abusivamente,
colam-se a muitas experiências de vida.
“Ghosteen” integra onze temas / construções musicais. Opto
por não destacar nenhum deles. Fazê-lo seria para além de redutor, arriscado,
pois o conjunto é o seu “tour de force”. Não resisto contudo a sublinhar as derradeiras
linhas de “Hollywood” acima transcritas. Aparentemente banais, dizem muito ou
quase tudo.
Tendo como ponto de partida e destino os sentidos, “Ghosteen”
é muito provavelmente o melhor disco de Nick Cave desde o seu melhor álbum de
canções. Seja ele qual for.