Um dos últimos testemunhos artísticos de Jack Rose teve a
colaboração dos Black Twig Pickers. Um facto cujo significado não pode ser ignorado,
tendo sobretudo em conta que Rose era oriundo da escola “avant-folk” e o colectivo da Virginia um interprete da “old
time music”.
Seis anos volvidos a importância dos Pickers não pára de
crescer. Agora é Steve Gunn outro
produto do avant-folk reconvertido ao tradicional, procurar o apoio da banda de
Nathan Bowles e Mike Gangloff para se aventurar no território do psychedelic
Appalachian. Porque é exactamente disso que se trata em “Seasonal Hire”, um disco
onde a sonoridade tradicional das Blue Ridge Mountains se funde com a vertigem psicadélica do
guitarrista da Pensilvânia.
“Dive for the pearl” foi recuperado de “Melodies for a savage
fix” uma colaboração de Gunn com Gandloff e “Trailways Ramble” teve a sua
estreia em “Time off”, ambos de 2013. São aqui completamente reinventados,
atingindo uma dimensão que não conheceram nas respectivas estreias.
“Don’t let your deal go down” é um tradicional a que o
violino e voz de Sally Ann Morgan conferem uma estranha actualidade, enquanto o
tema título, “Seasonal Hire”, escrito a meias entre Gunn e os Twigs, é um
mantra que se desenvolve harmoniosamente a partir da guitarra acústica de
Steve, do banjo de Isak Howell e da harmónica de Gangloff. Seguramente uma das melodias
que ficará quando o ano terminar.
Por paradoxal que possa parecer, o que esta colaboração nos
ensina é que não existe nada de mais visionário e arrojado do que a música
tradicional quando trabalhada pelos artesãos certos. Atente-se em “Cardinal
51”. 16 minutos de um raga que bordeja o drone, sustentado pela guitarra slide de
Gunn enquanto o violino iconoclasta de Sally Morgan revisita John Cale nos
momentos sublimes dos Velvet.
Estará “Seasonal Hire” deslocado em 2015? Talvez, mas Pelt,
Jackie-O Motherfucker ou Vibracathedral Orchestra também o estavam no seu tempo
e hoje são locais de peregrinação obrigatória.