08/08/13

Steve Gunn "Time off"


 
Ser-se melómano tem destas coisas!
A paixão nunca se extingue. Apesar de já ter escutado milhares de álbuns e dezenas de milhar de músicas, a paixão permanece, indiferente ao tempo. Sem cansaço. E a cada esquina encontro mais razões para que assim seja. A mais recente chama-se Time off  e é uma cortesia de Steve Gunn. 

Pouco referenciado fora dos circuitos alternativos, Gunn conta já com um apreciável número de registos ( quase todos objecto de edições limitadas ). A maioria a solo, mas também sob o nome de Golden Gunn ou Gunn-Truscinski Duo. E é justamente com o apoio do baterista  John Truscinski e do baixista Justin Tripp que “Time Off” é concretizado. O nova-iorquino parte dos locais habituais: Robbie Basho, Sandy Bull, Jack Rose, Michael Chapman; porém desconstrói tudo o que são ideias predefinidas e retoma a tradição exactamente no ponto em que a sua criatividade o determina.
Ou, dito de outra maneira: parte de porto seguro, mas é impossível saber onde irá aportar. E “Time Off” é isso mesmo, uma aventura que começa em “Water Wheel”, serpenteando em volta de um riff hipnótico, mas que rapidamente extravasa padrões e conceitos redutores para se (des)concentrar na invenção, passada e futura. Passada, pois não é possível ignorar os nomes atrás referidos, aos quais acrescentaria Kottke, Garcia, Jansch e Fahey. Futura, porque aquilo que se escuta em “Time off” é claramente intemporal. “Lurker” apresenta-se em modo drone, magnético, onde a voz e a guitarra solo são preponderantes na estrutura de um tema vicioso e viciante.

É muito provável que Gunn  nunca tenha ouvido Hot Tuna, mas “Street Keeper” e “New Decline” poderiam sem esforço fazer parte do alinhamento de “Hot Tuna” ou “Burgers”, tal a similitude com a guitarra bluesy e voz de Jorma Kaukonen e, sobretudo, o tonitruante baixo solo, marca de água de Jack Casidy. “Old Strange” veste a pele de um blues preguiçoso a que o violoncelo de Helena Espvall confere assinalável dose de melancolia. Para o fim “Trailways Ramble”, a cereja no topo do bolo. Cerca de 9 m de um raga cósmico que não deixará ninguém indiferente e que poderá muito bem vir a constituir um poderoso final de set nas prestações de palco.
Arrojado e incontornável.