Dodson and Fogg ( nome retirado de um romance de Dickens ) é
basicamente um projecto de Chris Wade ( escritor, editor, ilustrador, cantor,
compositor ), um verdadeiro homem da renascença.
Desde sempre apaixonado pela folk, Wade reuniu um conjunto de
canções e, fazendo uso das várias ferramentas de que dispõe, partiu para a
respectiva publicação. Em boa hora o fez pois “Dodson and Fogg”, não
sendo um portento de originalidade, cativa pela beleza, inspiração e
simplicidade.
Fundamentais são as colaborações de Celia Humphris ( Trees ),
Nik Turner ( Hawkwind ) e Judy Dyble ( Fairport Convention ). Aportam talento,
mais valia e sobretudo, ajudam a sublinhar a atmosfera early 70s, naturalmente
reforçada pelas heranças provenientes dos COB,
Forest e Incredible String Band. No conjunto são 12 temas iluminados por
aquela sonoridade tão característica da época, quando o folk tradicional vestia
as roupagens psych, bordejava o progressivo e não raras vezes se distraía, resvalando
para aquilo a que hoje se chama “acid folk”.
“All day long”, estrategicamente colocado a abrir, é um tema
de rara beleza, quase uma canção de embalar, com as guitarras acústicas e o
piano de Wade a percorrerem os espaços que a voz de Celia Humphris deixou por
preencher. “Just you and me” mantém as vibrações, acrescenta a flauta de Nik
Turner e atira com a canção para o catálogo dos Forest, Trees ou até mesmo
Jethro Tull, período “Songs from the wood”. Embora mais soliloquiais, “Nothing at all” e
“Say Goodbye”, alinham pelo mesmo diapasão, que se manterá até ao final. Uma
agradável surpresa.