16/03/12

Hi Fiction Science "S/t"


Na sequência dos comentários do Atalho a respeito da compilação “Sorrow’s Children” ( ver texto abaixo), uma mão amiga fez chegar à minha caixa do correio o primeiro cd dos Hi Fiction Science, banda protagonista da versão de “Private Sorrow” na dita compilação.

Em boa hora o fez, pois “Hi Fiction Science” é uma pequena revelação.

Originários de Bristol, os Hi-Fiction Science, um quinteto constituído por Maria Charles, Jeff Green, James McKeown, Matt Rich e Aidan Searle, pratica uma sonoridade a um tempo estranha e familiar, que as sucessivas audições se encarregam de ajudar a clarificar.

As primeiras impressões remetem para paisagens próximas dos Dead Sea Apes, Lumerians ou Trembling Bells. Mais à frente percebe-se que também é isso, mas não apenas. Sobretudo não apenas.


Logo a abrir “Black Flower” poderia ser algo que os Trees fariam hoje, com a melodia e sobretudo a voz de Maria Charles, a cumprirem parte dos cânones do folk-rock contemporâneo, até ao momento em que a guitarra eléctrica de James McKeown entra em cena e o tema dispara em direcção ao espaço cósmico. Em “Old world” ( uma cortesia de Jonathan Richman) a voz mantém a postura, mas o baixo lidera, omnipresente, e relembra alguns dos momentos que tanto apreciamos em Mugstar ou Moon Duo. O órgão de “Zabriskie”, coincidência ou não, traz-nos à memória a banda sonora de “Zabriskie Point”. E os Floyd ali tão perto…

“Metal Terrapin”, tal como o nome indicia, faz subir a temperatura sem que no entanto a voz de Maria Charles perca a elegância e a subtileza que só o folk-rock por vezes consegue conferir. “Spirit Broken” é o espelho do título, enquanto “Kosmonaut” e “Undulating Blue” representam o elo “krautrock” que justifica a referência aos Mugstar umas linhas atrás. “Fleance” por exemplo, poderiam ser os Pentangle 2012 em versão eléctrica com um fuzz apoteoticamente acoplado.

Resumindo: “Hi Fiction Science” é um registo simultaneamente novo e antigo, percorre com inteligência e subtileza as últimas quatro décadas da música ocidental e acrescenta-lhe a contemporaneidade necessária para o tornar credível e apelativo. Daí a pequena revelação.

Ps: com o meu particular agradecimento a Aidan Searle.