01/04/10

Bill Fay "Still some light"


Bill Fay é a par de Peter Hammill um dos grandes talentos vivos que a Inglaterra menos valoriza. O líder dos Van der Graaf Generator tem a seu favor isso mesmo, o facto de ser o dínamo de uma das bandas de culto mais antigo e constante na Europa continental e nas Américas. Bill Fay por seu lado, é um genial e lúcido misantropo que, talvez à imagem de Nick Drake, só venha a ser realmente apreciado quando abandonar o mundo dos vivos.

Numa entrevista concedida há uns anos a Richard Morton Jack (Record Collector, Setembro 2004) Fay revelou que os seus dois álbuns de originais – “Bill Fay e “Time of the last persecution” - terão vendido apenas cerca de 2000 exemplares cada. Pouquíssimo tendo em conta o standard da época (1971). A situação hoje seria pouco diferente não fora o interesse e apoio militante de gente como David Tibet (Current 93), Jim O’Rourke, Ben Chasny, Jeff Tweedy ou Richard Morton Jack que, entre outros, ajudaram a colocar as reedições da Eclectic (2005) e da Esoteric (alguns anos após) no centro do mundo. Apesar disso, a escassa obra de Bill Fay permanece um segredo razoavelmente bem guardado.



Daí que todas as oportunidades sejam boas para aplaudir o homem e o artista. Como agora, a propósito de “Still some light”.

Este, particularmente o seu CD2 intitulado “Still some light, Home recorded Album 2009”, é um dos melhores discos que menos gente irá escutar este ano. O CD1, “Piano, Guitar, Bass & Drums 1970-71” consiste na recuperação das maquetas das canções que haveriam de integrar “Bill Fay” ( duas ) e “Time of the last persecution” ( nove ), às quais se juntam seis inéditos. Interessante embora apenas documental, uma vez que o factor surpresa é prejudicado pela assombrosa recordação do que são aqueles dois discos originais.

Ao invés, os 25 temas que integram o CD2 ( estou a excluir “I wonder” uma curiosidade da autoria do irmão John, também responsável pelo artwork e pinturas reproduzidas no booklet e capa do CD ), são preciosidades a consumir com urgência e sem restrições.



O desafio começa em “My eyes open”, um eloquente instrumental de Michael Cashmore ( a conferir no seu EP “The snow abides” de 2006 ) a que Fay acrescentou as palavras e a voz, propulsionando a peça original para outra dimensão, prosseguindo depois entre guitarras, sintetizadores, cordas, órgãos e pianos, através de canções canções, miniaturas de canções, interlúdios ou solilóquios vários.

Dir-se-á que a duração – 25 títulos – é excessiva e que o lirismo e atmosfera de câmara de títulos como “There is a valley”, “Road of hope”, “Time to wake up now”, “All at once” ou “One day” só ganhavam com maturação e um verdadeiro trabalho de produção. Tudo verdade. Porém para aligeirar a audição, perdia-se a espontaneidade e porventura alguma da autenticidade que estas músicas transportam.

E depois, que me recorde, “Bill Fay”, “Silent corner and the empty stage”, “In camera” ou “Over”, também não são propriamente obras fáceis de escutar.