Cheguei algo atrasado a “Investigate witch cults of the radio age”. Mea culpa, pois esta criação dos Broadcast , um duo de Birmingham ( Trisha Keenan e James Cargill ), aqui acolitado pelo Focus Group de Julian House, encaixa na perfeição dentro dos parâmetros que norteiam o Atalho.
Esotérico, especulativo, visionário, excêntrico, simultaneamente novo e antigo, este registo é como um carrossel psicadélico, maioritariamente construído a partir de colagens, uma técnica que embora não sendo nova - Burroughs e os situacionistas usaram-na nas letras enquanto na música os Faust e os United States of America por exemplo, também por lá andaram – quando usada com talento e inteligência produz resultados extraordinários.
Neste caleidoscópio de fragmentos sonoros cabe tudo, ou quase tudo: psicadelismo barroco, “library music”, folk pagão, “acid pop”, o este, o oeste, “sunshine pop” tal como Marine Girls, Stereolab ou Antena o entenderam e ainda o psych-rock americano puro e duro (escute-se a peça “Ritual/Looking in” e atente-se na forma como foi samplada a introdução de “Time M”, uma das canções do seminal “Another day, Another lifetime” dos The David.
Quem restritivamente procurar aqui canções irá sentir-se defraudado. O formato não fez parte da linguagem criativa de Broadcast e no conjunto de 23 miniaturas, com esforço, encontrar-se-ão 4 ou 5 trechos a que poderemos chamar de canções.
Não obstante uma cintilante harmonia subsiste, indiciando que neste autêntico puzzle de sons, todas as peças se encontram no seu devido lugar. E no final resta a convicção de que o arrojo e o experimentalismo, quando suportados por um razoável lastro cultural, podem ser largamente recompensadores.
Um futuro clássico?