05/10/09

The Future Kings of England "The viewing point"


É certamente um cliché mas, depois de escutar o novo CD dos The Future Kings of England, não pude deixar de reflectir sobre os ciclos da história e na forma como esta periodicamente se repete.

No passado, o blues-rock e o psicadélico constituíram o código genético do progressivo, um género que nos deixou memórias soberbas como “Aqualung”, “Pawn Hearts”, “Foxtrot”, “Three friends ou “In the Court of the Crimson King”, embora também gongorismos execráveis como “Trilogy”, “Five Bridges”, “Tales from topographic oceans” ou “Crime of the century”.

Numa altura em que o género mostra cada vez mais vontade em regressar, o respectivo ADN sofreu nova metamorfose, passando a incluir componentes do Kraut e da Kosmische musik, escolas cujo legado (discos notáveis, alguns dos quais permanecem subavaliados), voltou e bem a estar “in”.



A música incluída em “The viewing point”, grosso modo, identifica-se com o que atrás fica dito. Trata-se de um “concept album” (um homem sentado ao volante de um carro imobilizado em frente ao mar, percorre mentalmente o passado) “contado” em seis instrumentais de qualidade e inspiração desiguais. O primeiro, “Go”, caso incluísse vozes, poderia confundir-se com um outtake de “Nursery Cryme” tal a semelhança estilística e instrumental com o grupo de Peter Gabriel. O tema título, a fechar o CD, é um longo instrumental que ora se aventura por paisagens cósmicas, ora regressa a terrenos mais seguros mas porventura menos estimulantes. Pelo meio residem instrumentais onde com alguma benevolência poderemos identificar o paradigma Caravan. A maioria das situações porém, remete apenas para os Camel.

Claramente um passo atrás relativamente ao anterior “The fate of old Mother Orvis”, “The viewing point”, mais prog do que psych, é referido no Atalho apenas pelo que significa, não pelos seus méritos intrínsecos.

O colectivo The Future Kings of England dá aqui nota de querer fazer parte da guarda avançada da enésima (e tudo indica eminente) carga do prog-rock. Uma nova sublevação silenciosa que poderá dar origem a obras interessantes, sobretudo se se inspirar mais na escola da electrónica germânica, mas que em simultâneo nos poderá obrigar a voltar às trincheiras cavadas pelo punk, há 30 anos.