Muito antes de se transformar na feira de vaidades que é hoje, o Glastonbury Festival começou por ser um acontecimento de cariz marcadamente alternativo.
“O mais underground dos eventos underground” ( Nigel Cross ); “Foi um bocado estúpido. Havia demasiadas drogas e demasiada ilusão” ( Terry Reid ); “Estive no primeiro Glastonbury. Fantástico, um dos acontecimentos mais inesquecíveis da minha vida” ( Julie Christie ).
Independentemente da análise que fazem os que nele participaram ou comentam à distância, o Glastonbury Fayre de 1971 será sempre recordado como um dos momentos principais da contracultura popular. Para o bem e para o mal.
Mais do que a música e os músicos ( Terry Reid, Traffic, Family, Quintessence, Linda Lewis, Gilberto Gil, Fairport Convention, Melanie, Arthur Brown … ) o que teve lugar no Vale de Avalon em Pilton, Inglaterra, entre os dias 20 e 24 de Junho em pleno solstício de verão, foi uma espécie de feira medieval onde a música, a dança, a poesia, o teatro, a religião e o paganismo se fundiram num evento de carácter místico e conotações tribais.
A utopia durou apenas 4 dias, mas como o demonstra a recente reedição em DVD das imagens então captadas por Nicolas Roeg, são sobretudo a mística e os aspectos sociais envolventes que tornam o evento tão historicamente relevante. Ainda que o modelo organizativo estivesse condenado à partida, como se provaria meia dúzia de anos mais à frente.
Durante décadas, quem se interessa-se pelo tema, apenas dispunha de “Revelations” um triplo álbum editado um ano após, com o intuito de ajudar a pagar as dívidas acumuladas pelos organizadores e que para além de extractos de algumas performances ( Mighty Baby, Pink Fairies, Edgar Broughton Band, Gong ), incluía gravações oferecidas por Grateful Dead, Bowie, Pete Townshend, Hawkwind ou Marc Bolan.
Juntando ao disco as agora restauradas imagens de Nic Roeg, obtêm-se uma foto tão nítida quanto possível de um episódio incontornável, ainda que então já dificilmente compaginável com a realidade social da época.