Depois de escutada esta pequena surpresa que dá pelo nome de “Static Kingdom”, julgo ser redutor encaixar os Steals exclusivamente dentro dos parâmetros no folk inglês. Da mesma forma, catalogá-los como herdeiros directos dos Opal / Mazzy Star também não lhes faria justiça. A verdadeira identidade deste colectivo de Leeds estará algures entre ambos, tão equidistante de um como do outro.
Neste registo de estreia, a banda liderada por Jayn Hanna ( textos, voz, guitarra, órgão, baixo, percussão … ) recria as paisagens frias e algo sombrias do norte de Inglaterra. A atmosfera místico/fantástica induzida por alguns dos textos é terreno fértil onde tanto podem despontar arranjos manuelinos como crescer edifícios sonoros espartanos, cujo minimalismo recua até Clay Allison ou mesmo Spain.
De resto, os leitores que se recordam das criações de Kendra Smith ( Clay Allison e Opal ) e, sobretudo de Hope Sandoval ( aquela boneca sensual de voz hipnótica que David Roback colocou atrás do microfone dos Mazzy Star ), irão encontrar similitude nas tonalidades vocais com que Jayn Hanna decora temas como “Hope” ou “Stay in silence”. As guitarras são de Mark Peters não de David Roback bem entendido, mas a matriz está lá.
“Static Kingdom” é um daqueles discos que começa por se afigurar inócuo mas que à medida que se vai tornando familiar, acaba por tomar conta de todos os recantos do nosso sistema auditivo, como que manietando através de hipnose.
“Dead flame rising” abriga uma guitarra que faz por evocar John Renbourn, enquanto o drone que atravessa o extenso “Golden” sublinha a beleza da paisagem e conta com a complacência de uma construção sonora cara aos Saint Joan de Ellen Mary McGee. “Borderline” e “All coming back” deixam perceber que muito embora os meios e a forma optem quase sempre pela contenção, existe uma indisfarçável dimensão cinematográfica nesta música.
Logo, toda a atenção a este e aos próximos capítulos!