12/08/09

Moby Grape "The place and the time"


Os Moby Grape podiam e deviam ter sido a grande banda californiana da segunda metade dos 60s. Por uma inusitada conjugação de mal entendidos e uma igualmente elevada dose de “bad karma”, nunca o conseguiram.

O mais recente episódio desta malfadada saga teve lugar há um par de anos, 40 depois dos factos que lhe deram origem terem acontecido. Em 2007 a Sundazed Records avançou para uma cuidada e definitiva reedição dos seminais “Moby Grape” ( 1967 ), “Wow” (1968) e “Grape Jam” ( 1968). Obteve como é sua política o acordo dos músicos, juntou verdadeiros “bonus tracks” e publicou os CDs.

Uma vez aqui chegados, aproveito para citar um velho amigo: “Quem os comprou, comprou. Quem não os comprou, tivesse comprado. Estavam lá para isso!”



De facto, a coberto daquilo a que entre nós se chamaria uma providência cautelar, o antigo manager da banda, Matthew Katz, reatou velhos litígios e forçou a retirada dos CDs, pouco tempo depois de se encontrarem nas lojas. Os fãs e os eventuais interessados ficaram assim privados de três magníficas reedições, as únicas que faziam justiça ao trabalho do grupo, contextualizando os temas originais e os diversos extras que se lhes juntavam.

Mais de dois anos volvidos e muito provavelmente após muito trabalho jurídico, a Sundazed tentou limitar os danos e avançou para a edição de “The place and the time”, uma compilação que reúne os extras que figuravam nas três edições retiradas, mais um conjunto de “outtakes” que faziam parte do alinhamento do há muito esgotado “Vintage, The very Best of Moby Grape”.

The place and the time” não será o tipo de disco que o Atalho recomendaria a um neófito dos Moby Grape ( “A” recomendação permanece o álbum de estreia “Moby Grape” ). Todavia será sempre uma edição a consultar por todos os que se interessam pelo rock californiano da época ou a guardar pelos incondicionais ( de preferência rapidamente, antes que algo corra mal de novo ).


Ao contrário de outras bandas suas contemporâneas, os Moby Grape não eram apenas um grupo de amigos reunidos em torno de um líder, um compositor ou instrumentista mais inspirado que os restantes. Por um golpe do destino ou mera coincidência os Grape ( Jerry Miller, Peter Lewis, Don Stevenson, Bob Mosley e Alexander Spence ) juntaram 5 músicos, simultaneamente compositores, instrumentistas e vocalistas de eleição.

Esta pouco usual concentração de talento pode constatar-se em “Moby Grape”, “Wow” ou mesmo “Moby Grape 69” ( embora aqui Skip Spence já tivesse abandonado ) mas é também evidente na maioria dos 24 títulos que fazem “The place and the time”. Procurem escutar “Loosely remembered” ( só por falta de espaço pode ter ficado fora de “Wow” ), o duelo de guitarras na versão alternativa de “The place and the time”, o colorido pop de “Looper” cortesia de Peter Lewis, a impressionante vocalização de Mosley em “Bitter wind” ou o funk-rock de “Soul stew”. E o que dizer de “Skip’s Song” ou “You can do anything” duas obras-primas de Spence, passadas a fita antes da sua mente criativa ser irremediavelmente queimada pelo ácido que o haveria de conduzir ao abismo.

Novamente: “The place and the time” não substitui os originais, mas na melhor tradição Sundazed, acrescenta algo mais ao que já se sabia desta banda fundamental.