27/07/09

Jardins do Paraíso XV ( The Telescopes )


Numa altura em que se recupera o emblemático primeiro álbum dos Stone Roses, seria também interessante resgatar à história dos finais dos anos 80 algumas das bandas que integraram o chamado “shoegaze”. O pontapé de saída pode ter sido dado com a reedição em curso dos Loop, à qual se vem juntar agora algum do espólio dos Telescopes.

O grupo de Stephen Lawrie anda por aí desde 1987. O primeiro registo que se lhe conhece é um flexi-disc a meias com os Loop. À data, os “boys next door” davam pelo nome de Jesus & Mary Chain, Spacemen 3, Loop, Swervedriver ou My Bloody Valentine. Vizinhança a frequentar sem reservas.

O som, como se percebe pelos nomes citados, era preenchido por ecos do 60’s punk, garage drone e muito space-fuzz. No caso concreto dos Telescopes, à agressão do discurso Stooges, acrescentava-se uma atitude pesada, tipo “kick out the jams motherfuckers”, embora convenientemente disfarçada por biombos de fuzz.


The Telescopes singles compilation 1989-1991” agrupa os principais singles da primeira etapa do colectivo, incluindo os seminais “The perfect needle”, “Shr burn”, “To kill a slow girl walking” ou “You can not be sure”, exemplos perfeitos do que se escreveu atrás. A partir de meados de 1990 ( após o inicio da ligação à Creation ), Stephen Lawrie optou por reduzir a velocidade e evitar o colapso que se adivinhava a cada riff. Os temas afastaram-se do precipício recuando para terrenos mais melódicos, eivados de psicadelismo, mais ancorados no paisley sound, ainda que o reverb e o fuzz nunca se afastem mais do que o necessário (“I sense”, “Everso”, “Wish of you”, “Celeste”, “Flying” ).

The Telescopes, Singles #2” conta outra história. Resultado ou não das constantes mudanças de pessoal, Lawrie e os Copes praticam agora um discurso muito mais abstracto, onde o drone e o space são componentes mais tangíveis na definição de um som que se catapulta para a frente ( escute-se a nova versão de “The perfect needle”, por exemplo ).


Muito mais kraut e experimentalista o novo formato sonoro dos Telescopes desloca-se para o habitat de Flying Saucer Attack, Tarentel ou Jessamine e, a meio dos anos 90 desafia, ao manter um pé nas caves de Hamburgo e outro na São Francisco vanguardista e iconoclasta da época. “Winter #7”, “Another sky” ou “Where it comes from where it goes”, através da utilização das técnicas drone e de efeitos tecno desenhados em espiral, remetem para um galáxia de “electronic soundscapes” que os Telescopes, com o rigor de velhos artesãos, criaram a partir da respectiva garagem.

Embora diversa, esta outra linguagem do colectivo britânico é tão estimulante quanto a inicial e, a cerca de uma década de distância, mostra que o filão da história está longe de se encontrar esgotado. A vontade e o tempo investidos na sua redescoberta são, como no caso presente, largamente recompensados.