06/05/09

Wooden Shjips "Dos"


O concerto lisboeta dos Wooden Shjips no final de 2008 foi um dos melhores a que assisti recentemente. Ao vivo, aquela ideia de fundir o beat oriundo do krautrock com o fuzz inventado pelo garage-rock americano, resulta ainda melhor do que em estúdio. Isto, apesar de nos primeiros singles funcionar já muito bem e de, no álbum de estreia homónimo, a componente orgânica ser ainda sublinhada por referências óbvias aos Doors, Stooges ou Suicide.

Em “Dos” o novo cd, o quarteto de São Francisco como que se procurou ajustar às regras do palco. Manteve intacto o essencial do seu ADN mas aumentou a duração dos temas; nalguns casos transformou-os em verdadeiras mantras , repletos de guitarras metálicas penduradas em espirais de fuzz e massivos lençóis de teclas quase sempre reféns de um droning hipnótico e sinuoso ( como em “Fallin” por exemplo).



Observados em conjunto, os cinco temas que integram “Dos”, talvez não façam dele o melhor registo dos Shjips. Não obstante e detalhando: a abertura super abrasiva de “Motorbike” ( juntando num só espaço os sons das caves de Hamburgo, os ecos das garagens de Detroit e o frenesi proto-punk de Nova Iorque ) e o desenvolvimento hipnótico de “Down by the sea” – este polvilhado por intermináveis solos de guitarra psicadélica, cortesia de Rippley Johnson -, estão entre os temas que mais podem acrescentar ao já muito interessante espólio desta banda.

Perto do fim, os 11m e 10s de “Fallin”, parecem ter sido pensados para abrir novas possibilidades musicais. Depois de os escutar, coincidência ou não, o Atalho sentiu uma vontade enorme de resgatar o álbum estreia dos Stranglers e de caminho recuperar as prestações de Ira Kaplan para os primeiros Yo La Tengo.

Se as opções serão estas ou outras, só mais tarde se saberá. Certo é que, sendo a fórmula realmente interessante e inovadora, irá necessitar de futuros ajustes para que a chama não se apague e o projecto não se perca. Até lá “Dos” mais do que cumpre os mínimos.