Wolf People! Façam o favor de reter este nome.
Se existisse uma ponta de vergonha e de justiça neste mundo, esta banda tinha antena assegurada no éter e chamadas de atenção em todas as revistas da especialidade. Como a vergonha é cada vez mais um conceito arcaico e a justiça, que deveria servir para repor a verdade dos factos quando a falta de vergonha impera, naturalmente para lá caminha, as rádios vão continuar a divulgar os habituais verbos de encher amestrados. Estes por seu lado irão continuar a integrar as listas dos “melhores do ano” e, por essa via, continuarão a ser promovidos.
O quinteto londrino que constitui Wolf People representa uma outra estirpe de músicos. Percebe-se de imediato que para além de gostarem do que fazem, possuem enorme bom gosto e já ouviram quase tudo o que realmente importa ouvir na música rock.
O cd EP auto produzido pela banda, compila temas anteriormente publicados em 3 singles. São 5 canções construídas em cima das maquetas que as duas guitarras esboçam. Trata-se portanto de música elaborada por apóstolos da guitarra eléctrica e tem como público alvo os amantes da mesma.
A sonoridade é consistentemente “west coast”. Aqui e ali, torna-se ainda mais colorida ao acolher o serpentear melódico da flauta, um instrumento que as mentes politicamente correctas tentam tornar proscrito desde “Thick as a brick”.
Para os meus ouvidos, os arranjos e o trabalho das guitarras em temas como “Caratacus” ou “Cotton Strands” só têm paralelo nos momentos altos dos galeses Man, nas live jam sessions protagonizadas pelos Quicksilver Messenger Service ou em algumas das páginas escritas pelos Country Joe & The Fish. Quem conhece os álbuns de estreia de Mad River ou Television vai naturalmente perceber o que andavam a ouvir os Wolf People quando escreveram “Storm Cloud”. O mesmo raciocínio se pode aplicar relativamente a Captain Beefheart e a “October Fires” , enquanto “Black Water” só ganha com a inesperada intromissão de uma “guitarra Gimme Shelter” que vem ajudar a colocar o tema num patamar superior.
Em resumo: os californianos inventaram os Wooden Shjips; os londrinos responderam com Wolf People.
Duas bandas com tal dimensão a emergirem do underground em tão curto espaço de tempo, só pode ser motivo de celebração. Depois não digam que ninguém os avisou.