Retirado do enorme baú que é a carreira de Neil Young e não estando previsto integrar o projecto editorial dos “Arquivos”, “Sugar Mountain, Live at Canterbury House 1968”, acaba de ser resgatado aos “bootlegs” e conhece finalmente uma edição legal.
Cronológicamente as fitas que perpetuaram este concerto, situam-se entre o fim dos Buffalo Springfield, no verão de 68, e a publicação de “Neil Young” no Natal desse mesmo ano. Os concertos acústicos que o canadiano protagonizou serviram para testar a reacção do público face às canções que iriam integrar o primeiro álbum solo. E, a avaliar pelo que nos é possível escutar em “Sugar Mountain”, o teste só pode ter sido um sucesso.
Neil Young é um artista multifacetado, caprichoso, imprevisível e frequentemente incoerente. Mas é exactamente quando se apresenta rigorosamente a solo ( acompanhado pela guitarra acústica e/ou piano ) que atinge o cume da “sua” autenticidade. Por outras palavras: existem vários “Neil Young”, uns muito bons outros um pouco menos, porém é quando surge mais “desprotegido”, sem as guitarras em “feedback” e longe das cavalgadas apocalípticas Crazy Horse ou outros jogos de espelhos sonoros de inspiração “country” que Neil nos deixa perceber a verdadeira dimensão do seu talento. Como aqui.
“Sugar Mountain” acolhe em inspiradas versões lo-fi as grandes contribuições do músico para os Springfield (“Mr. Soul”, “Expecting to fly”, “Broken arrow”, “Out of my mind”, “On the way home”) e adiciona-lhe “The loner”, “I’ve been waiting for you”, “The old laughing lady”, “If I could have her tonight” todas incluídas no disco de estreia, “Birds” (que surgiria em “After the goldrush”) e “Sugar Mountain”, esta só publicada em álbum através da compilação “Decade”.
O curioso e hoje talvez motivo de surpresa para muitos, reside no facto de ao escutarmos estas canções, interpretadas de forma simples e despojada ( sem os arranjos de matriz barroca que de alguma forma ajudaram um pouco a datar o álbum “Neil Young”), nos ser sugerida uma espécie de paragem no tempo. Afinal, não terão passado 40 anos. Paradoxalmente ou talvez não, os temas que Young abordou nestas canções são hoje, individual e colectivamente, tão importantes como o eram em 1968.
O curioso e hoje talvez motivo de surpresa para muitos, reside no facto de ao escutarmos estas canções, interpretadas de forma simples e despojada ( sem os arranjos de matriz barroca que de alguma forma ajudaram um pouco a datar o álbum “Neil Young”), nos ser sugerida uma espécie de paragem no tempo. Afinal, não terão passado 40 anos. Paradoxalmente ou talvez não, os temas que Young abordou nestas canções são hoje, individual e colectivamente, tão importantes como o eram em 1968.
Porventura a melhor prova da sua extraordinária dimensão.
*** Nota a propósito da anunciada edição do 1º Volume dos “Arquivos”***
Mesmo para os apoiantes da primeira hora como eu, começa a faltar a paciência para o comportamento errático manifestado por Neil Young a propósito da publicação dos seus famosos "Arquivos".
Anunciada há mais de 10 anos, a edição já teve apontadas meia dúzia de datas. Todas alteradas porque o velho Neil não estava satisfeito com determinado pormenor ou simplesmente aguardava a última novidade tecnológica para suportar fisicamente a edição.
Agora, ao que parece, decidiu-se pelo DVD e pelo Blue-Ray e a data avançada para o lançamento é o final de Janeiro 2009. Só que os preços previstos ( nomeadamente pela Amazon e já contemplando o desconto promocional ), 310 dólares para a versão DVD e 324 dólares para o Blue- Ray, são no mínimo especulativos, para não lhes chamar obscenos. Como o primeiro volume dos “Arquivos” terá 10 discos, estamos a falar de uma média de 31 dólares cada, o dobro do que é normal e expectável. Um livro e uns quantos posters não justificam este desvario, sobretudo quando ao cabo e ao resto o que interessa aos fãs é basicamente a música.
Mais, de acordo com relatos oficiais, a caixa incluirá também “Live at Massey Hall 1971” e “Live at Fillmore East 1970” ambos recentemente publicados. E aqui uma de duas, ou Young não os integrava nos “Arquivos” ou, se o queria fazer, não os tinha lançado antes. Querer simultaneamente sol na eira e chuva no nabal é algo que um artista com o passado e a idade de Neil devia saber que não fica bem.
Com tanto tempo dedicado à preparação da edição dos “Arquivos” o músico deveria ter pensado numa solução que do ponto de vista do custo fosse menos ofensiva para todos aqueles que lhe apoiaram a carreira durante 4 décadas.
Dito isto, o Atalho não voltará a abordar o tema dos “Arquivos”.
Ps: enquanto ultimava estas linhas soube que, fruto das abundantes críticas ou simplesmente porque mudou de novo de opinião, o homem voltou a usar a barriga e empurrou a data de lançamento dos “Arquivos” para Abril / Maio 2009. Mais do mesmo portanto.