Ao longo da sua história os Strawbs debateram-se sempre com um dilema nunca resolvido. A música que escreviam era considerada demasiado “folk” para os adeptos do progressivo, continha excessivos elementos “prog” para os incondicionais do folk.
E no entanto, Dave Cousins e Tony Hooper tinham começado pelo bluegrass, evoluindo posteriormente para o “folk” contemporâneo que tocaram em numerosos clubes do género.
Em 1967, o acaso colocou-lhes Sandy Denny no caminho. Com a inclusão do baixista Ron Chesterman, o quarteto gravou “All our own work”, um trabalho que à data ninguém pareceu interessado em editar (acabou por só ver a luz do dia em 1973, muito por força do estatuto entretanto adquirido pela cantora). Perante o insucesso Sandy Denny optou por sair para os Fairport Convention e o resto da história é conhecida.
Cousins e Hopper entretanto seguiram o seu caminho. “Strawbs”, o primeiro álbum, saiu em 1969. Produzido por Gus Dudgeon, arranjado de forma nada despicienda por Tony Visconti (na época responsável por alguns sucessos de Bowie e Tyrannosaurus Rex) e credor das participações de Nicky Hopkins, John Paul Jones e Nosrati & His Arab Friends entre outros, “Strawbs” é um registo de folk rock psicadélico muito interessante e nada negligenciável.
Talvez o mais marcadamente “folk” dos álbuns da banda, propõe atmosferas correspondentes em “Poor Jimmy Wilson”, “The man who called himself Jesus” (uma balada concebida na melhor tradição Dylan, muito popular após receber um significativo empurrão ao ser banida da antena da BBC) ou “Tell me what you see in me”, esta última visitando os sons e a arquitectura da música do médio oriente.
Simultaneamente “Strawbs” deixava já adivinhar o discurso musical futuro. O tema “That which once was mine” transporta as sementes do barroco renascentista que caracterizaria discos como “From the Witchwood” ou “Grave new world”. “Pieces of 79 and 15” e “Or am I dreaming” ganham textura com as orquestrações e adornos com o mellotron (recordo que na época os Moody Blues eram um projecto muito apreciado e ainda em crescendo) mas, ainda assim, todas elas não perdem de vista a principal influência: o “folk”.
Uma linguagem que atinge o zénite em “The Battle” um épico inesquecível de inspiração medieval que permanece uma das composições mais brilhantes de Dave Cousins.
“Strawbs” foi recentemente objecto de uma reedição que inclui duas novas versões – “That which once was mine” e “Poor Jimmy Wilson” – além de uma gravação ao vivo de “The Battle” no BBC Radio One Show de John Peel.