“They may call Nashville ‘Music City’, but that title belongs fairly and squarely to its southeasterly neighbour Memphis. For a century or more, popular music has been Memphis’ very fabric… Steeped in the blues, this was where rock’n’roll was born, the fount of Southern Soul, yet a significant minority of East Memphis youth in the late 60s and early 70s appeared to be besotted with the sound of British rock. This was not the mainstream Anglophilia of the mid-60s America, but an enthusiasm bordering on obsession, a Southern demi-monde where the Yardbirds and the Who reigned supreme, and Ardent Studios was its nexus.” ( Alec Palao )
“Looking back, (Ardent) was an island in a sea of rhythm and blues, in a country that didn’t want the music that we wanted to make at that time. It was a very isolated situation” ( Terry Manning )
Vistas em perspectiva estas duas citações ajudam a compreender muito do que se passou nos estúdios da Ardent entre 1966 e 1977. Como foi afinal possível que tanta invenção, criatividade e paixão pudesse passar ao lado da grande massa de público.
Fundados pelos visionário John Fry ( foto da esquerda ), os Ardent Studios primeiro e a Ardent Records depois, cedo se transformaram no laboratório de trabalho dos novos alquimistas dos sons da cidade de Memphis. Terry Manning, Chris Bell, Alex Chilton, Don Nix e Jim Dickinson entre outros, estavam mais interessados na vertente anglófila do pop do que no rock’n’roll e no soul de Memphis e Detroit.
O primeiro CD da compilação “Thank you friends, The Ardent Records Story”, integrando música escrita e gravada entre 1966 e 1971, documenta-o na perfeição. De uma forma quase incestuosa, os músicos/compositores/engenheiros/produtores saltavam de projecto para projecto, banda para banda, sem outro objectivo que não o de criar e gravar a música de os inspirava. Donde, verdadeiras preciosidades como o beat dos The Avengers, o barroco de 1st Century, o garage-punk dos Goatdancers, o “psychedelic stuff” de Chris Bell e Icewater, o pop luminoso de Alex Chilton ou o “rock saloon” dos Rock City.
John Fry entretanto ligou-se à Stax Records e a recém-criada Ardent Records, enquanto subsidiária daquele grupo editorial, procurou apostar no mercado rock. Big Star, o novo colectivo de Alex Chilton e Chris Bell, os Cargoe, uma promessa de Oklahoma e os Hot Dogs foram as apostas de partida.
Os Cargoe gravaram um muito interessante álbum homónimo produzido por Terry Manning, enquanto Hot Dogs editava, “Say what you mean” em 1973. Quanto a Big Star pouca haverá a acrescentar, tal a reconhecida importância dos álbuns “#1 Record” e “Radio City”. À data, curiosamente, todos passaram despercebidos.
( Big Star )
O segundo Cd de “Thank you friends” recupera o período 1971-1977. O destaque vai directo para as demos e misturas inéditas de Big Star. Mas, Chris Bell a solo, duas pérolas retiradas do registo dos Cargoe e posteriores evoluções power-pop (Scruffs, Tommy Hoehn e Hot Dogs) também justificam referência.
O trabalho de compilação e anotação de “Thank you friends” possui a chancela de qualidade que é característica do músico/historiador/arquivista Alec Palao. Desta forma, um projecto que era à partida interessante, transformou-se numa edição indispensável.