30/07/08

Jardins do Paraíso IV ( Cold Sun )


Custa a crer como foi possível que “Dark Shadows”, o fantástico primeiro e único álbum dos Cold Sun, cujas fitas foram gravadas em 1970, permanecesse inédito durante duas décadas, justamente até 1990 data em que a Rockadelic, com o acordo da banda e através de uma edição limitada de 300 exemplares, publicou finalmente os sete temas que estiveram na génese de “Dark Shadows”.

Depois, foi preciso esperar mais 18 anos para que o disco fosse objecto de uma reedição legal em CD e LP, colocando desta forma um ponto final na homérica cruzada dos fãs, - a busca insana de uma cópia da edição vinil da Rockadelic, raramente captada nos radares e, quando raramente tal acontecia, nunca aceitava mudar de mãos por menos de 500 dólares.

Only in Texas” como refere Jello Biafra nas notas de escreveu para o booklet que acompanha a reedição do álbum.

Depois de escutar o disco, eu ( e provavelmente a generalidade dos incondicionais do psicadelismo ) não hesito em catalogar “Dark Shadows” como um dos melhores registos saídos do Texas na segunda metade dos 60s. Dada a natureza do projecto, só espanta que os Cold Sun não tenham integrado o catálogo do International Artists, etiqueta responsável pela divulgação das melhores bandas texanas da época ( os mais curiosos poderão confirmá-lo em “Never Ever Land, 83 Texan Nuggets from International Artists Records 1965-1970”, uma compilação recentemente editada pela Charly ).


Com “Dark Shadows” Bill Miller ( futuro membro da banda de Roky Ericson ) e os Cold Sun, criaram um disco tão extraordinário quanto original. Um facto notável considerando que em 1970 no Texas, psicadelismo era sinónimo de 13th Floor Elevators e Golden Dawn. Porém “Dark Shadows” não é garage-rock, garage-punk, blues ou hard-rock. Trata-se de um puro registo psicadélico, alucinante, repleto de visões deslumbrantes , que apresenta o deserto texano como pano de fundo e o autoharp de Miller como guia. “Dark Shadows” deverá de resto ser o único disco psicadélico realmente importante onde o autoharp detém o papel de liderança.

“South Texas”, “Twisted Flower”, “Fall ou “Ra-Ma” são temas intensos, evolutivos e hipnóticos. Não surgem excessivamente datados, crescem a cada audição, mas tal como o conjunto de que fazem parte, carecem de um estado de espírito próprio para serem escutados e admirados na plenitude.

De novo, Jello Biafra não tem dúvidas: “… this is TRUE Texas psychedelic music progressive expansions long before prog realized how ‘progressive’ it was and lost the brain melt side of the plot.”

Cautelosa, a World in Sound optou por escrever na contracapa da reedição, “WARNING: do not operate motor vehicle or power tools while listening to these recordings.”

De facto, “só no Texas”.