Está encontrado o meu disco para este verão. Chama-se “Changes near” e tem a assinatura dos californianos The Quarter After.
O segundo registo dos irmãos Campanella ( Dominic, Robert e às vezes, Christina e Andy ) é um daqueles álbuns de canções luminosas, de texturas coloridas, melodias atraentes, habitadas por vozes e harmonias vibrantes. Uma atmosfera tipicamente west-coast, a estabelecer pontes entre as várias gerações do folk-rock psicadélico, desde os Byrds ou Peanut Butter Conspiracy até aos Three O’Clock, Rain Parade ou Wrens. Pelo caminho ainda se detectam incursões na Inglaterra dos Smiths ou Stone Roses.
De resto, no ADN dos Quarter After, seja por via dos membros permanentes ou das colaborações, encontramos ainda células dos Velvet Crush ( Ric Menk ), Wondermints, Lovetones, Son Volt, Matthew Sweet, Brian Jonestown Massacre…
Um conjunto de credenciais impecáveis para um disco quase perfeito que começa por apelar através da forma e termina cativando pelo conteúdo.
Na abertura, um riff de baixo muito Peter Hookiano, rapidamente se transforma num tema que legenda toda a história do folk-rock psicadélico com referências explicitas ao paisley underground dos anos 80. “Sanctuary” é neste particular um cartão de visita incontornável. Roger McGuinn se um dia ouvir “She revolves”, vai certamente perguntar-se por que razão nunca se lembrou de escrever aquela canção.”See how good it feels” é profusamente atravessada por riffs de guitarra que nos remetam para a escola do pop americano doa anos 90, com os Silver Scooter ali mesmo à espreita.
“Early morning rider”, “Nothing out of something” e “Turning away” continuam a percorrer as vibrações matizadas pelo sol de Los Angeles até que, “Sempre avanti ( Johnny Marr is not dead)”, na génese um country-garage rock, à medida que caminha para o fim, se vai metamorfoseando num guitar-drone tão surpreendente como inesperado. “Changes near” termina ali. É altura de carregar na tecla do repeat e voltar à excitação do verão.
Para assistir a um concerto dos Quarter After, agora, no zénite do seu processo criativo, até nem me importava de beber cerveja com pó, num dos muitos chamados festivais de verão que por aí estão, ao virar de cada esquina.