03/07/08

Mudcrutch - "S/t"


Em Novembro de 1979, a propósito de “Damn the torpedoes”, Philippe Garnier cronista atento e um dos mais consistentes críticos franceses, escrevia na revista “Rock & Folk”: “ Claro, sou parcial. Los Angeles é a cidade onde vivo. Los Angeles é a cidade de Tom Petty. Aqui toda a gente ou quase, gosta dele. Os mexicanos gostam de Tom Petty. Os Surfers gostam de Tom Petty. Os negros estão-se nas tintas, mas seria o fim do mundo se gostassem. Os punks detestam, talvez com mais virulência que ao restante rock “mainstream”. Um sinal de qualidade…”

Sempre gostei de Tom Petty. A par de Neil Young, talvez a menos “mainstream” das rock stars “mainstream” americanas. Tal como o canadiano, Petty sempre demonstrou saber quais as suas fraquezas, gerindo-as com a mesma sabedoria com que procurou evidenciar as qualidades. Mas, acima de tudo, sempre fez o que lhe apeteceu.

Mudcrutch”, o disco que acaba de lançar com a banda homónima ( a primeira que liderou no inicio dos anos 70 em Jacksonville, na Florida ), está fora do âmbito definido para este espaço de divulgação. Mas, caramba, ninguém é perfeito e “Mudcrutch” faz por merecer a inclusão.

Temporariamente fora de cena, os Heartbreakers dão agora lugar aos referidos Mudcrutch ( afinal , três quintos nos Heartbreakers ). E, para além de alguns pormenores formais ( Petty deixou a guitarra e passou para o baixo ), as diferenças são quase imperceptíveis. “Mudcrutch” é subtil, vertiginoso, derivativo, enérgico. Como quase todos os registos de Petty.


Para abreviar: a versão de “Shady grove” deveria ser estudada em todas as escolas de música públicas e privadas, particularmente as intervenções das guitarras de Mike Campbell e do piano de Benmont Tench; “Scare easy” e “Bootleg flyer”, directas já para uma edição actualizada do “Greatest Hits”; “Oh Maria” poderia ser um “outtake” do pastoral “Southern Accents”; “Lover of the Bayou” tem aqui a versão mais abrasiva e demolidora que conheço do tema de Roger McGuinn.

“Crystal river”, na construção e na duração ( 9 m 30 s ) constitui um dos títulos menos ortodoxos do “songbook” de Petty. Algo me diz que alguém nos Mudcrutch esteve a ouvir “The end” dos Doors antes da sessão de gravação ter inicio. Talvez no carro, a caminho do estúdio …

O carro. A estrada. Locais e ambientes perfeitos para escutar Tom Petty.