12/06/08

Nudity "The nightfeeders"

Klaus Dinger, membro fundador dos Kraftwerk, Neu e La Dusseldorf, morreu em Março último. “The nightfeeders” a estreia oficial dos Nudity foi publicada pouco depois. Objectivamente sem relação, os dois factos acabam por ter uma ligação: o estilo metronómico da bateria.
Dinger foi um multi-instrumetista visionário, ao qual deve ser creditada a invenção do chamado “motorik”, uma forma peculiar de trabalhar a percussão que passou a ser uma das imagens de marca do krautrock alemão, mais tarde presente na música feita por Hawkwind, Bowie, Brian Eno ou Joy Division.

Oriundos de Washington os Nudity, utilizam a arquitectura rítmica criada pelo alemão como uma espécie de cabouco em cima do qual assentam os delírios sonoros do órgão, baixo e, sobretudo, da guitarra.
The nightfeeders” é, percebe-se logo na primeira audição, um disco enorme. Instintivamente, um daqueles registos destinado aos incondicionais da música psicadélica.

Principia no terreno que foi dos Malachi ( “Holy Music” é um paradigma incontornável ): sitars, flautas, drones, mantras. Desloca-se a seguir para a Bay-area de São Francisco 1968. Mais adiante, sem que nada o fizesse prever, avança para um beat frenético, por sobre o qual tonitrua um baixo desinquieto. Pairando sobre estes dois elementos, abre-se espaço para a guitarra de Dave Harvey, num prolongado e hipnótico solo-fuzz. Os Blue Cheer também passaram por ali.

Lado 2. “The nightfeeders (concentrick mix)” na prática um tema completamente diferente. Meditação, silêncio, improvisação. A guitarra acústica guia-nos para paisagens mais coloridas, lugares outrora habitados por New Age/Pat Kilroy ou Euphoria. Fim do interlúdio. O frenesi cósmico dirige-se de novo para o olho da tempestade “motorik”. A guitarra abandona os jardins do paraíso para regressar à electricidade suja do fuzz, em solo interminável, até que se esgotam as espiras do vinil. Porque tudo tem de ter um fim…

Para a primeira edição de “The nightfeeders” foram prensadas apenas 800 cópias ( 200 em vinil cor púrpura, 600 em negro ). A capa, pintada semi-manualmente é um verdadeiro “labour of love”. Também por esta via, este disco está condenado a ser um clássico.