21/05/08

Mugstar


Quem me conhece sabe que mantenho sempre o ouvido colado ao solo, na busca dos melhores e ainda impolutos sons que emergem do underground. Trata-se de uma prática que tem permitido descobrir universos e sonoridades mágicas; uns que é preciso abandonar mais à frente, logo que o efeito corrosivo do mainstream actua, outros que ficam para sempre.


Em 2007 o meu radar detectou Mugstar. Um colectivo de Liverpool que, a fazer fé na respectiva página do MySpace, se define como: “the sound of 10.000 suns exploding, pulsing with repetitive beauty, pounding like a supersonic mantra…”. Sugere ostentação? Claro que sim. No entanto é rigorosamente verdade.


O primeiro CD homónimo da banda está destinado a ser um daqueles artefactos a que ninguém prestou atenção quando saiu e de que toda a gente vai falar daqui a 10 anos.


Imaginem um cenário capaz de congregar numa única galáxia, universos tão particulares como os que conhecem a Stooges, Can, Kinski, Hawkwind, Sonic Youth, Neu, Flower Travelling Band, Sun Ra, Kraftwerk, Syd Barrett … Pois, é isso. “O som de 10.000 sóis a explodir”.


“My babyskull has not yet flowered”, o tema de abertura de “Mugstar” é absolutamente glorioso. O silêncio é banido por um saxofone que abre alas para a tempestade que se vai seguir com o baixo lemmyniano e cavalgar a percussão motorik.


Sem dúvida caleidoscópico mas, “Crempog Smultron”, logo a seguir, não permite recuperar o folêgo. Imaginem “In search of space” ou “Doremi Fasol Latido” mas gravados numa velocidade 3 vezes superior…


Um par de temas mais adiante, “Subtle Freak” proporciona finalmente uma pausa, ao deslocar o epicentro da tempestade cósmica para o planeta Pink Floyd na era de 1967.
Pelo meio passaram no horizonte ecos dos sons mágicos dos Sonic Youth, dos Can, ou de Neu.


Um registo que mais de um ano após a publicação, ainda não saiu das imediações do meu leitor de CDs, só pode ser extraordinário.