19/05/08

Howlin Rain "Magnificent Fiend"

Durante anos, largos, fazer uma referência ao rock dos anos 70, não importava o estilo ou até a época, era tão politicamente incorrecto que num ápice conduzia os candidatos a hereges a um ostracismo fundamentalista, medieval.

Ultrapassadas as sequelas inquisitoriais do punk e os complexos daí resultantes, tornaram-se vulgares os regressos à herança dos anos 70, seja através da opinião ou da música. E, como é habitual nestas coisas, perdeu-se de novo o pé e resvalou-se para o exagero/piroseira.

Na América ( mas também no Canadá ) algumas das bandas emergentes do “alt-country” caíram na armadilha do “hard-rock” e vulgo entraram na festa pirotécnico-riffeira da escola Black Sabbath. Com grande sucesso aliás, a avaliar pelo espaço e atenção de que são objecto em publicações da especialidade.

Para lá de todo este folclore, os Howlin Rain ( side-band de Ethan Miller quando os Comets on Fire partem para férias ) optaram por reler as melhores páginas dos finais dos 60 inicio de 70 e, de caminho, adicionar-lhes um pouco do fermento cósmico de que Miller parece ser um dos detentores do segredo. A experiência já havia começado em “Avatar”, teve o seu processo de maturação no álbum estreia “Howlin Rain” e consolida agora em “Magnificent Fiend”.

O processo escolhido está longe de ser fácil ou consensual. O palco está repleto de outros candidatos a protagonistas mas aos Howlin Rain deve ser dado o crédito de terem arriscado, mantendo um salutar patamar de qualidade.

O ADN californiano está patente e as referências são óbvias. Mas para lá delas, ouvem-se ecos dos Faces, Allman Brothers, Band ou Traffic. Daí que “Magnificent fiend” seja um puro gozo.

O “southern-rock” provoca o gospel (“Lord have Mercy”), as guitarras acústicas são mestres de cerimónias na entrada triunfante do psicadelismo rural inglês matriz Traffic (“Nomads”), o velho e saudável espírito “jam-session” vem alegrar as hostes (“Dancers at the end of time”) e os cerca de 8 minutos de “Goodbye Ruby” personificam o “funk-blues” tal como os irmãos Allman o inventararm. No fim o psychedelicatessen “Riverboat” que não fora a introdução inoportuna de um sintetizador poderia muito bem ser uma lost-take do lendário “Blows against the empire” de Paul Kantner.

Depois de “Magnificent fiend” e considerando o que emergiu de “Avatar” fica por saber se os trilhos Comets on Fire e Howlin Rain não irão cruzar-se mais à frente.