01/12/25

Jardins do Paraíso ( 89)



Publicado na Austrália em 1972 via Warner Brothers, “Maranatha” foi o primeiro álbum de Megan Sue Hicks, uma norte-americana expatriada. 

Vivia-se o período dourado dos singer songwriters e “Maranatha”, fruto da sua sensibilidade algo clandestina, bem como do reduzido número de cópias em circulação ( apenas duzentas ), cedo ganhou o estatuto de disco de culto. 

Agora, finalmente reeditado de forma oficial, é possível ao comum dos mortais dissecar as canções de Megan Sue Hicks sem que para isso seja necessário vender um rim para adquirir uma cópia original. 

Vivia-se o período de maior exuberância dos singer singwriters dizia, e “Maranatha” é daquela corrente um fiel apaniguado. Mas não apenas. 

Se atendermos a canções como “One last alley” ou “Cle’s Song” é praticamente impossível não acabarmos no pátio de “Full House” ou “Angel delight” ou seja, Fairport Convention pós Sandy Denny. “Peter’s Song ( And He’ll Probably Never Hear It )” possui aquele sentimento bucólico, apanágio da contemporânea Vashti Bunyan e que, anos mais tarde, inspiraria a também britânica Virginia Astley

Aqui e ali, mais nos textos que nas melodias, assomam algumas semelhanças com essa outra “flor do mal” que foi Judee Sill

Acompanhada pelos The Flying Circus, uma banda constituída por músicos australianos e neo-zelandeses, Megan Sue Hicks teve aqui o seu primeiro e porventura único momento de glória. Fosse a sua interpretação vocal um pouco mais consistente, a generalidade do Lado B tão atraente quanto o Lado A, misturas e produção um nadinha mais profissionais e estaríamos a falar de uma perene obra prima. 

Todo o modo, “Maranatha” está acima de muitos dos álbuns em cuja corrente se insere. E depois, há “Hey, Can You Come Out And Play” …

 

16/11/25

Record Files ( 34 )

 


Publicado no Reino Unido em Outubro de 1969 com o selo da Liberty, “I asked for water, she gave gasoline” reveste a forma de uma compilação.

O foco é o blues e os artistas são os da casa ( Tony McPhee, Jo-Ann Kelly, Andy Fernbach ... ). Um dos principais motivos de interesse reside nos dois temas de Andy Fernbach ( “She’s gone” e “Built my hopes too high” ) ambos ausentes do seu único álbum “If you miss your connexion” e só disponíveis na edição original do vinil.

A capa da edição inglesa reproduz uma pintura de inspiração surrealista da autoria de Jim Pitts.

A prensagem americana da Imperial não acompanhou o design da Liberty optando por uma obra de Kevin Leveque.




08/11/25

Lost Nuggets ( 209 )



The Eighteenth Day Of May "S/t" ( Hannibal/Transistor HNCD 1496 ) UK, CD, 2005

- "Eighteen Day"
- "Sir Casey Jones"
- "The Highest Tree"
- "Deed I Do" ( Bert Jansch )
- "Hide + Seek"
- "Twig Folly Close"
- "Lady Margaret" ( Tradicional )
- "Cold Early Morning"
- "Monday Morning's No Good Coming Down"
- "The Waterman's Song To His Daughter"
- "Flowers of the Forest" ( Tradicional )
- "The Mandrake Screams"

The Eighteenth Day Of May: Allison Brice ( voz, flauta, dulcimer ), Ben Phillipson ( voz, guitarra e bandolim ), Mark Nichols ( guitarras baixo e solo ), Richard Olson ( cítara, harmónica e guitarra ), Karl Sabino ( bateria e percussão ) e Allison Cotton ( viola )

Canções: The Eighteenth Day Of May, excpeto as indicadas

Produção de Andy Dragazis e The Eighteenth Day Of May

Capa: design de Jimmy Young, foto de Brian Stevens 

03/11/25

Trimdon Grange Explosion "Dreams Buried Under The Sea"

 


Oito anos após um primeiro álbum homónimo e vinte após o fabuloso trabalho da banda progenitora – The Eighteenth Day Of May – os Trimdon Grange Explosion regressam com “Dreams Buried Under The Sea”.

Trata-se de uma espécie de espelho sonoro que nos conduz a imagens de um pretérito quase perfeito onde o eixo The Byrds / Big Star / R.E.M. removia os destroços do pós-punk e do synth-pop.

Porque “Dreams Buried Under The Sea” é mesmo isso, uma montra sonora que tendo algo de nostálgico, não se esgota naquela matriz.

Atente-se em “World turning round”, a abrir. No evoluir do tema é difícil não rever mentalmente “Murmur”, imediatamente antes da canção explodir num mar de guitarras fuzz.

O jingle-jangle de “September Falls” evoca The Byrds enquanto “Swim on your back in the water” traz à memória os Wolf People de Jack Sharp e P.G. Six de Pat Gubler, outros dois expatriados do eixo acima citado.


“Breaking the wheel”, um mini épico irresistível, é talvez o título âncora do álbum. Byrdsiano na essência surpreende quando é introduzida a viola de Alison Cotton; o efeito é hipnótico, como se a viola de arco de John Cale regressasse das catacumbas do Velvet Underground para nos encantar uma vez mais.

A fechar “As the world rises to fall”, competente e obviamente cúmplice do Neil Young de “Harvest”.

Dreams Buried Under The Sea” está para além deste tempo. Ostenta um charme muito próprio e, talvez por isso, não é expectável que venha a frequentar as famigeradas listas dos melhores do ano.

Nada que surpreenda e muito menos incomode o Atalho. Como já alguém afirmou: "a história está pejada de exemplos de maiorias que não tiveram razão".

Heroes are hard to find ( 105 )



Archie Fisher

( 23.10.1939 - 1.11.2025 )

29/10/25

Lost Nuggets ( 208 )

 


Edição obscura na etiqueta portuguesa Zip Zip, algures entre os anos de 1969 e 1970 ( não parece existir grande informação disponível ).

Na essência uma colectânea de temas originais ou versões de matriz cristã ( o chamado “Christian Folk” estava no seu auge nos Estados Unidos ) interpretados por um colectivo amador.

Surpreendentemente a qualidade das prestações, instrumentais e vocais, está acima da média. Algum do amadorismo que caracterizava o género não tem aqui acolhimento relevante.

As versões de “This land is your land” e “Let’s get together” não comprometem antes pelo contrário e três dos originais “What’s it all about”, “Why” e “I will arise and go to Jesus” ( belíssimo o banjo ) poderiam ser facilmente incluídos em qualquer compilação do género.



20/10/25

Jardins do Paraíso ( 88 )

Objecto de uma prensagem original de 200 exemplares, “And Then Perhaps” ( 1971 ) é nos dias de hoje, uma das mais raras prensagens privadas do folk britânico. 

Marie Celeste ( o nome da banda tem origem na história do Mary Celeste, “navio fantasma” norte americano encontrado à deriva no Atlântico em Dezembro de 1872 sem qualquer membro da tripulação a bordo ) foi um quinteto oriundo de Wolverhampton que começou por se chamar The Matchbox Folk Group enquanto actuava no seu próprio club folk ,“Sandpiper” no Hotel Lion naquela cidade das West Midlands. 

A alteração do nome da banda coincidiu com as sessões de gravação, todas ao vivo, acústicas e sem overdubs. O áudio, naturalmente, apresenta características lo-fi e os arranjos uma indisfarçável ingenuidade.

Porém, a espaços “And Then Perhaps” encanta, fruto do talento dos dois guitarristas ( Ken Price e Brian Lindop ) e das harmonias vocais partilhadas por Tricia Jenkins e Mary Bishop. Cinco dos doze temas são originais com particular destaque para o excelente “Prisoner” e para o complexo arranjo instrumental de “Theme based on greensleeves”. 

O leque de versões estende-se de Tom Paxton (“When morning breaks”) a Joni Mitchell ( “Night in the City” ), passando por Paul Simon ( “I am a rock” ) ou Jagger/Richards ( “Ruby Tuesday” ).

Oficialmente reeditado com um novo design de capa “And Then Perhaps” não fazendo embora parte da “first division” do folk rock inglês da época, possui atributos e qualidades mais do que suficientes para justificar a nossa atenção.

14/10/25

Artefactos ( 143 )




Silva Carvalho ( 8/2/1948 - 8/7/2025 )

"Canções"

Edição do Autor ( dedicada a Bob Dylan )
 1978, 112 páginas
 

30/09/25

Lost Nuggets ( 206 )


Kathy & Carol "S/t" ( Elektra EKL/EKS 289 ) Mono/Stereo, USA, 1965

- "Spring Time" (música de Carol McComb)
- "George Collins"
- "The Blacksmith"
- "Fair Beauty Bright"
- "Green Rocky Road"
- "The Grey Cock"
- "Wrondrous Love"
- "Carter's Blues" ( Carter )
- "Lady Maisry"
- "Brightest and Best"
- "Gold Watch and Chain" ( Carter )
- "Just A Hand To Hold" ( Mark Spoelstra )

Kathy Larish e Carol McComb ( vozes, guitarras e autoharp )

Canções tradicionais excepto as indicadas

Gravações de Paul A. Rothchild

Produção de Jack Holzman

Capa: foto de James Frawley, design de William S. Harvey


Record Collector nº 330, Dezembro 2006

26/09/25

Tom Petty



It was me and my sidekick / He was drunk and i was sick / We were caugh up in a barroom fight / Till an Indian shot out the lights / I’m so tired of being tired” ( Tom Petty )

Há dias assim. 

Não escutava “Wildflowers” há décadas. 

Hoje porém Paul Thomas Anderson, por via do fabuloso “One battle after another” (a sequência final de perseguição automóvel levou-me até 1971 e ao lendário “Vanishing Point” de Richard C. Sarafian) convida a retornar a Tom Petty ao incluir “American Girl” no genérico do filme. 

Concomitantemente e pelo que chega via imprensa publicada, julgo perceber que passados 31 anos da sua publicação terá chegado a hora de transformar “Wildflowers” num disco de culto. “Hellas”, mais vale tarde do que nunca. 

“Crawling back to you” é a par de “Refugee” a canção favorita de Tom Petty aqui pelo Atalho e ambas, mais do que muitas outras, trazem à memória as centenas/milhares de kilómetros que Petty fez ao volante do meu carro.
  

19/09/25

"When Will They Ever Learn? A Story of U.S. Folk Music 1963-1969"

The oft-covered ‘Morning Dew’ is understandable; it was one of a number of emotive songs evoking a fear of nuclear annihilation and its consequences dating back before the Korean War but particular heightened in the prelude to the Cuban Missile Crisis. As the 60’s wore on, the civil rights movement grew stronger, and the horrors of the Vietnan War hung over more than one generation living in the shadow of the draft. Topical songs have endured, becoming more far reaching in scope, subtler and less histrionic, but some questions remain unanswered. Look at the world around us and all the fears, concerns, threats and challanges we face, as Pete Seeger so presciently observed 65 years ago: When Will They Ever Learn?” ( Mick Houghton, do booklet de “When Will They Ever Learn?, a Story of U.S. Folk Music 1963-1969” 

As canções tinham um propósito. Os artistas causas, políticas, sociais, ecológicas, o que fosse. Desígnios que, com maior ou menor honestidade, assumiam em disco ou em palco. 

O público aderia por convicção e nos concertos, para além da vertente lúdica, a postura não era apenas a de socializar, acenar com as luzinhas do telemóvel ou beber cerveja com pó. 

Ao escutar a centena de canções que dão corpo a “When Will They Ever Learn?, a Story of U.S. Folk Music 1963-1969” torna-se difícil impedir que um notório sentimento de nostalgia desponte, com tudo o que de bom ou porventura menos bom possa vir a influenciar a análise e determinar o julgamento.
   

Corações ao alto que basta de elucubrações. Estamos muito provavelmente em presença de uma das compilações do ano, qualquer que seja o ângulo de abordagem. 

As vertentes histórica e sociológica estão presentes em muitos dos menos óbvios exemplos da banda sonora que ilustrou episódios como a guerra da Coreia, a crises dos Misseis em Cuba, o conflito do Vietnam ( pré e pós ) ou a campanha dos Direitos Civis. O dealbar do fenómeno singer-songwriter e a reabilitação do stato-quo então emergente em Nashville também. 

Concretizando: entre outros passam por aqui Pete Seeger, Odetta, Tom Paxton, Hedy West, Arlo Guthrie, Dave Van Ronk, Malvina Reynolds, Bob Dylan, Fred Neil, Barry McGuire, Bonnie Dobson, Phil Ochs, Richie Havens ou Tim Rose. 

Também Paul Simon, Tom Rush, Tim Buckley, David Blue, Judy Collins, Judy Henske, John Philips ( pré e pós Mamas & Papas ), Gordon Lightfoot, Byrds, Gene Clark, Karen Dalton, Nico, Pat Kilroy ou Tim Hardin. 

Nomes com menor divulgação e a descobrir: Peter LaFarge, Paul Clayton, Dick Rosmini, Len Chandler, Billy Edd Wheeler ou Steve Noonan. 

Pode até parecer injusto, mas face à qualidade do proposto, estes ouvidos ousariam ainda salientar as fabulosas versões de “Wings” ( Tim Buckley ) por Linda Ronstadt & The Stone Poneys e “Tin Angel” ( Joni Mitchell ) por Tom Rush. 

No que concerne a originais, “Morning Dew” ( Bonnie Dobson ), “Hey Joe” ( Tim Rose ), “Three Ravens” ( Judy Henske & Jerry Yester” ) ou “High Flying Bird” ( Billy Edd Wheeler ), mantêm toda a sua pertinência. 


Com curadoria e textos de Mick Houghton, “When Will They Ever Learn?” é em simultâneo um fresco sobre a história e um desafiante objecto de estudo.

17/09/25

Lost Nuggets ( 205 )


Otis Rush "This one's a good'un" ( Blue Horizon M 7-63222 ) Mono, UK, 1969

- "Double Trouble"
- "Jump Sister Bessie" ( Willie Dixon )
- "She's a good'un"
- "Checking on my baby"
- "Sit down baby"
- "Love that woman" ( Lafayette Leake )
- "Keep on loving me baby - take A"
- "Keep on loving me baby - take B"
- "My baby is a good'un"
- "If you were mine" ( Willie Dixon )
- "I can't quit you baby" ( Willie Dixon )
- "All your love (I miss loving)"
- "Groaning the blues"
- "It takes time"
- "Violent love"
- "Three times a fool"
- "My love will never die"
- "She's a good'un"

Otis Rush: canções, voz e guitarra; com: Shakey Horton ( harmónica ), Harold Ashby e Lucius Washington ( saxofone ), Lafayette Leake, Little Brother Montgomery e Ike Turner ( piano ), Willie Dixon ( baixo ), Al Duncan, Odie Payne e Fred Below ( bateria ), Jody Williams, Reggie Boyd e Louis Miles ( guitarra )

Coordenação de Richard e Mike Vernon

Capa: design de Terence Ibbott, foto de Jan Persson


Record Collector nº 324, Junho 2006

11/09/25

Artefactos ( 141 )








"Collectabel UK Labels"

Jorn R. Andersen, com Kjell Stalhane e Haaken Eric Mathiesen

Edições privadas, publicadas entre 2003 a 2008

Noruega

08/09/25

David Ackles "Down River, In Search of David Ackles"


"Down River, In Search of David Ackles

Mark Brend

Jawbone Press, UK, 2025

248 páginas
 

Tudo, ou quase tudo, o que sabíamos e ainda não sabíamos sobre a personalidade e o legado de David Ackles


Entrevista com o autor aqui