“From 1999 to 2004 / I was stealing horses / You weren’t
even born / But I heard you on the radio late last night / Singing an old
Jimmie Rodgers song …” ( in “Stealing Horses”, “Reservoir”)
Não sendo adepto e muito menos militante do clássico “no meu tempo
é que era bom”, admito sem rebuço a escassez de pachorra para ir acompanhando a
profusão de mediocridades que empenhados “caixeiros viajantes”, nos media e
redes sociais, procuram vender como se tratando do último upgrade aos Jardins Suspensos da Babilónia.
A redenção será por estes dias inalcançável, porém a
esperança resiste, estoica, esporadicamente suportada numa realidade cúmplice.
E aqui chegamos a “Reservoir”, o álbum estreia dos Brown
Horse, uma banda oriunda de Norfolk no leste de Inglaterra. Um detalhe nada
despiciendo, uma vez que ao escutar os primeiros acordes do acima citado tema
de abertura, o ouvinte pode ser tentado a presumir que a origem se encontra na
cidade de Norfolk, mas na Virginia.
“Stealing Horses” encanta e hipnotiza, o mesmo sucedendo com
a generalidade dos restantes temas que compõem “Reservoir”.
Os textos, a excitante descoberta das vocalizações de Patrick
Turner ( como em Dylan ou Petty a voz é um instrumento; as palavras são ditas/sugeridas
num murmúrio onomatopaico que recruta a atenção do ouvinte magnetizando-o ), melodias,
arranjos …, somam-se num corpo harmonioso que se projecta para além do tempo,
de qualquer tempo.
Sedeado algures entre o “alternative country” e o “americana”,
“Reservoir” não inclui um tema supérfluo. Por cima de guitarras laid back, o
acordeão e a lap steel são protagonistas em “Steeling Horses”, na canção título
e em “Called away”. “Outtakes” por seu lado configura um mini-épico que Jason
Molina não desdenharia ter escrito, preenchendo o pódio onde já se encontravam “Steeling
Horses” e “Reservoir”.
Por agora, os Brown Horse são pequenas silhuetas na paisagem
musical dos eleitos. Buscam a modernidade enquanto convocam a tradição. Mais,
muito mais do que nos dias de hoje seria razoável exigir. Veremos no futuro.
No entretanto, dificilmente escutaremos algo semelhante nos
próximos tempos.