01/01/22

Ian A. Anderson "Please Re-adjust Your Time, The Early Blues & Psych-Folk Years 1967-72"

 


Issued in March 1969, Island’s celebrated label sampler ‘You Can All Join In’ featured an iconic front cover photo of their various acts, shivering in Hyde Park on a cold winter’s morning. One of the musicians pictured on the cover, however, wouldn’t be allowed to join in. Recorded in November 1968, West Country-based country blues performer Ian Anderson’s album ‘Stereo Death Breakdown’ was scheduled to be issued by Island, but Jethro Tull’s management complained that having two Ian Andersons on the label would be confusing.” 

( David Wells in “Separate Paths Together, an Anthology of British Singer/Songwriters 1965-1975” )




Recordei o texto acima ao constatar que “Stereo Death Breakdown” é um dos trabalhos que integra a compilação “Please Re-adjust your time, The Early Blues & Psych-Folk Years 1967-72”.

Titulado pela Anderson’s Country Blues Band, o álbum acabaria por ser publicado pela Liberty em Junho de 1969, sendo agora recuperado na sua totalidade, acrescido de temas entretanto publicados em EPs onde Anderson partilhou o talento e o country blues com Al Jones, Elliott Jackson, Mike Cooper e Jo-Ann Kelly entre outros.

Só que nove meses é muito tempo e, na época, as coisas mudavam mais depressa que a duração normal de uma gestação humana.
A cena de Bristol mudara e a inspiração deixou de ser Alexis Korner, os blues man americanos ou o trio Koerner, Ray & Glover e com a emergência de Keith Christmas ou Michael Chapman as referências mudaram rapidamente para o neo-folk britânico protagonizado por nomes como Shirley Collins, Incredible String Band ou Dr. Strangely Strange.

Em Abril de 1970 Anderson, apoiado em Al Jones e Keith Christmas publicou “Book of Changes” na Fontana ( infelizmente não licenciado para esta compilação e como tal irá permanecer sem reedição oficial ) mas o projecto de lançamento de uma editora independente já estava em marcha, a participação no primeiro Glastonbury Festival e a cada vez maior inflexão em direcção à tradição folk britânica era já irreversível, donde que a publicação de “Royal York Crescent” em Novembro de 70 na acabada de nascer Village Thing Records não surpreenda minimamente.

No inicio, “Royal York Crescent” ainda parece querer manter a ligação à sonoridade bluesy americana através de “No Way To Get Along”, mas conteúdo e  forma rapidamente se encaminham para uma maior englishness, suportada pela voz e incomum técnica de Anderson na guitarra acústica ( em tempos alguém definiu o som como “heavy folk” ) sempre coadjuvado por um nada despiciendo Ian Hunt na segunda acústica.



A vulture is not a bird you can trust” ( Dezembro de 1971 ) nasceu e cresceu a partir dos conceitos experimentados no álbum anterior, definitivamente um disco do seu tempo. Inspiração e estéticas folk-rock, contornos singer-songwriter ( uma versão de Dylan, “One too many mornings”, outra de Loudon Wainwright, “Black Uncle Remus” ),  regravações de dois temas do álbum  Book of Changes”, Pick Withers futuro Dire Straits na bateria e uma novidade, a introdução do órgão no naipe de instrumentos utilizados. Não sendo a última das maravilhas, é um registo a merecer uma audição prospectiva sobretudo tendo em conta o trabalho das guitarras em canções como “One more chance” ou “Time is Ripe”. Os quatro títulos extra aqui incluídos foram retirados do já referido “Book of Changes”, o tal “disco maldito” que, enquanto álbum, Ian A. Anderson tão veementemente decidiu banir da sua discografia.

Um ano após, Dezembro de 1972, nova inflexão estilística com “Singer Sleeps on as Blaze Rages”. A habitual segunda guitarra Ian Hunt está ausente ( entretanto a gravar com John Turner o excelente “Magic Landscape” também para a Village Thing ) e está de regresso a colaboração com Mike Cooper com quem Anderson não gravava desde 67. Eclético será o termo apropriado para caracterizar este último álbum de Ian Anderson para sua própria editora. O country blues está de novo presente, o picking também, obviamente e por aquela via. A espaços, muitos, paira a sensação de que Leo Kottke  e a sua genial técnica de bootleneck passaram por ali, intermitentemente. Trata-se de mera ilusão naturalmente. Kottke está para além de qualquer imitação, por mais competente que possa ser ser.

Num dos discos menos equilibrados de autor, sobram os excelentes “Maria Celeste on Down”, “Sign of the Times” e “Shirley Temple Meets Hawkwind”, os quais deixam a milhas uma versão incaracterística de “Paint it, Black” dos Stones. Os quatro temas extra fazem parte do espólio dos Hot Vultures, um duo que Anderson experimentaria nos anos seguintes ao lado da baixista Maggie Holland, mas que a história não registou com empenho significativo.

Tudo resumido, e tendo em conta que os discos originais se transacionam hoje como se barras de ouro se tratassem, regista-se o facto de poder escutar numa única edição a quase totalidade da globalmente interessante obra do autor. Lamentando uma vez mais o facto de “Book of Changes” ter ficado maioritariamente de fora ( Fausto afinal não está só na sua recusa em permitir a reedição do seu álbum estreia para a Philips ).



Nota: A eventuais interessados na história cena folk de Bristol e / ou da editora Village Thing em particular sugere-se a consulta dos livros que Mark Jones publicou em 2009 e 2010 respectivamente.