06/08/20

Jardins do Paraíso ( LXIII )



Mais do que a personagem, controversa, o que impressiona é o curriculum.

Ao longo da sua carreira de pianista, compositor, arranjador e orquestrador, Jack Nitzsche ( 1937 – 2000 ) trabalhou com Phil Spector, Lee Hazlewood, Jackie De Shannon, Gary Lewis, The Crystals, Sonny Bono, Ike & Tina Turner, Rolling Stones, Crazy Horse, Marianne Faithfull, Randy Newman, Tim Buckley, Buffalo Springfield, Mink De Ville, Graham Parker … a lista é infindável e tem o seu quê de aristocrático.

Mas o Jack Nitzsche que realmente me prendeu a atenção, foi o que colaborou com Neil Young. Os arranjos de “Expecting to Fly” ( Buffalo Springfield ) já tinham a sua assinatura, mas aquele piano em “When you dance I can really love” ( “After The Goldrush” ) e “Words, Between The Lines of Age”, bem como os arranjos de “A Man Needs a Maid” e “There’s a World” ( “Harvest” ) são génio puro.  

Pelo meio, e não menos importantes, existem inúmeras bandas sonoras ( “Performance”, “Heartbeat”, “Blue Collar”, “One Flew Over The Cuckoo’s Nest”, “The Hot Stop”… ) e “St. Gilles Cripplegate” gravado em 1972 com a London Symphony Orchestra, num registo onde o compositor assume o seu ecletismo clássico.

Em Janeiro de 74, nos Cindarella Studios em Madison / Tennessee, Nitzsche gravou um conjunto de temas destinados a publicar pela Reprise Records nessa primavera. A verdade porém é que “Jack Nitzsche”, o álbum, apesar de ter número de catálogo atribuído; design, grafismo e alinhamento de temas concluídos, não viu a luz do dia e o músico foi dispensado pela editora.

Um dos mais badalados “lost albuns” da história acaba de ser finalmente editado na sua versão original ( em 2001 a Rhino Archives havia incluído os onze temas na compilação “Three Piece Suite, The Reprise Recordings 1971-1974”, aos quais juntava os registos de “St. Giles Cripplegate” e quatro demos gravadas em Los Angeles e Nashville ).

Com a maioria das músicas escritas a partir de textos do realizador Robert Downey, “Jack Nitzsche” não é o álbum esperado, não era certamente o que Mo Oslin e a Warner esperavam em 1974.

Idiossincrático, algo errático, a meio caminho entre o “vaudeville”, o “mariachi” e o erudito ( foi provavelmente pensado e concebido como banda sonora para um filme de Downey ), o disco não faz justiça ao talento do autor, deixando a pairar a sensação de que poderia ter sido muito melhor caso as condições, ou a convicção, fossem outras.

Notas: esta edição em vinil respeita o grafismo e o alinhamento concebidos pela Reprise. A informação sobre os músicos participantes, essa não sobreviveu à passagem dos anos.