16/06/20

Constantine "In Memory Of A Summer Day"



Os dias são de chumbo. Feios, incertos e perigosos. Mas de quando em vez surgem episódios,  pequenos nadas dir-se-à, que ajudam a recolocar em níveis aceitáveis a esperança no género humano.

Quatro anos após “Day of Light”, Constantine Hastalis regressa, já não para  surpreender, antes para confirmar a sua candidatura como um dos mais genuínos herdeiros do Donovan trovadoresco e pastoral que conhecemos outrora.  

In Memory Of A Summer Day” é o album de que necessitamos nesta altura. Tranquilo, primaveril e hipnótico em simultâneo. Evoca memórias passadas, imagens algo difusas e nostálgicas de um tempo assumidamente juvenil que a adolescência roubou.
Tem muito de Pré-Rafaelita também, porque usa o romantismo como língua mãe. Os  cavaleiros batem-se pelas suas damas, as manhãs de primavera despertam  sentimentos trovadorescos, o cantar vespertino das aves inspira os poetas e os verões intermináveis, como desejável.

Os títulos das canções são a este nível absolutamente esclarecedores: “Upon your rise”, “Morning, The Meandering Path”, “Spring”, “My Dear Alice”, “Slaying The Dragon”, “Matilda of the Meadow”, “Afternoon, In Memory Of a Summer Day”, “Upon a Dream” …

A construção musical é simples, os arranjos deliberadamente antigos e os instrumentos predominantemente acústicos ( cravo, a cítara e flauta em destaque  ). Constantine não terá os dotes vocais de Donovan Leich nem o virtuosismo instrumental de Timothy Renner ( outro nome que ressurge quando se escutam estas canções ).

Não obstante, “In Memory of a Summer Day” é um daqueles discos que, para além de cativar, hipnotiza, corteja a ficção e remete para um passado “naif” onde nada se afigurava impossível, por mais que o fosse verdadeiramente.

Um irmão gémeo tardio de “From Gardens where we feel secure” de Virginia Astley. Escutem “Morning, The Meandering Path”, “Spring”, “Slaying The Dragon”, “Afternoon, In Memory of a Summer Day” ou “The Kingdom Must Fall” e descubram porquê.