Os dias são de chumbo. Feios, incertos e perigosos. Mas de
quando em vez surgem episódios, pequenos
nadas dir-se-à, que ajudam a recolocar em níveis aceitáveis a esperança no
género humano.
Quatro anos após “Day of Light”, Constantine Hastalis
regressa, já não para surpreender, antes
para confirmar a sua candidatura como um dos mais genuínos herdeiros do Donovan
trovadoresco e pastoral que conhecemos outrora.
“In Memory Of A Summer Day” é o album de que necessitamos
nesta altura. Tranquilo, primaveril e hipnótico em simultâneo. Evoca memórias passadas,
imagens algo difusas e nostálgicas de um tempo assumidamente juvenil que a adolescência
roubou.
Tem muito de Pré-Rafaelita também, porque usa o romantismo como
língua mãe. Os cavaleiros batem-se pelas
suas damas, as manhãs de primavera despertam sentimentos trovadorescos, o cantar vespertino
das aves inspira os poetas e os verões intermináveis, como desejável.
Os títulos
das canções são a este nível absolutamente esclarecedores: “Upon your rise”, “Morning,
The Meandering Path”, “Spring”, “My Dear Alice”, “Slaying The Dragon”, “Matilda
of the Meadow”, “Afternoon, In Memory Of a Summer Day”, “Upon a Dream” …
A construção musical é simples, os arranjos deliberadamente
antigos e os instrumentos predominantemente acústicos ( cravo, a cítara e flauta
em destaque ). Constantine não terá os
dotes vocais de Donovan Leich nem o virtuosismo instrumental de Timothy Renner
( outro nome que ressurge quando se escutam estas canções ).
Não obstante, “In Memory of a Summer Day” é um daqueles discos
que, para além de cativar, hipnotiza, corteja a ficção e remete para um passado
“naif” onde nada se afigurava impossível, por mais que o fosse verdadeiramente.
Um irmão gémeo tardio de “From Gardens where we feel secure”
de Virginia Astley. Escutem “Morning, The Meandering Path”, “Spring”,
“Slaying The Dragon”, “Afternoon, In Memory of a Summer Day” ou “The Kingdom
Must Fall” e descubram porquê.