31/12/18

Chris Thompson "Drunken Nights in Dublin"




James M. Cain estava coberto de razão quando em 1934 publicou “The Postman Always Rings Twice”.

O carteiro toca de facto sempre duas vezes. Comprovou-se um destes dias, quando a campainha retiniu duas vezes para que o dito me pudesse entregar uma das encomendas mais esperadas nos últimos tempos aqui no Atalho: “Drunken Nights in Dublin”.

Natural de Hamilton / Nova Zelândia, Chris Thompson é responsável por um dos meus discos para a ilha deserta: “Chris Thompson( Village Thing, UK, 1973 ), um dos melhores álbuns de “acid folk” da década. Antes e sobretudo depois, cultor de um percurso artístico vizinho do irrepreensível,  Thompson é um daqueles raros criadores que só vem a terreiro quando tem algo de importante ou diferente para dizer.


Foi assim quando gravou o álbum de estreia, foi também assim quando partilhou experiências, palcos e estúdios com Julie Felix, Gay and Terry Woods, Davy Graham, Rosemary Hardman, Clem Alford, Quintessence, Horslips, Wizz Jones, Sonny Terry, Mike Heron ou Stevie Ray Vaughan.


A vertente literária foi cúmplice assídua, permanecendo sempre por perto. T. S. Elliot ou Cristina Rossetti são nesta matéria influências patentes.

O referido álbum “Chris Thompson” foi objecto de uma edição limitada, tendo sido pouco ou nada promovido à época. Como consequência conheceu “tanto sucesso” como os três opus gravados um par de anos antes por Nick Drake.

Antes de regressar à Nova Zelândia o autor residiu e trabalhou temporariamente em Dublin e foi aí que nasceu a estrutura do projectado segundo álbum. Na altura a  intenção não passou disso mesmo, todavia deu origem a um conjunto de gravações entretanto vertidas para um acetato.

A história conta-se assim:

The master tapes assembled by Chris for this then proposed release were transferred to a single stereo acetate paid by Chris, by Apple Corps in London in 1974. Chris shipped his collection of first generation master tapes back to New Zealand with him in 1975, but these were sadly lost in a later domestic house fire in 1982. Same master tapes in various forms have survived in other ways, such as those used on his self-titled debut album. Chris left the acetate at the EMI Studios in Middlesex in England with a view to it being produced in to a LP for his second album, just prior to his hasty return home. The acetate remained at EMI for many  years before being moved, reason unknown, to a well-known record shop in Soho, then on to a specialist record shop in London for a further twenty years or so. The artist was identified using Shazam, before the acetate was advertised as a ‘rather mysterious album thought to have connections to George Harrison’ for sale on eBay in March, 2018.”
( Acetato )

O que todos os fãs, investigadores e curiosos têm agora é a possibilidade de finalmente aceder ao projecto inicial de Chris Thompson, tal como o autor o terá imaginado em tempo.

12 temas, 6 dos quais inéditos, sendo que os restantes foram ou usados no álbum de estreia ou posteriormente recuperados para os discos que o compositor publicou já na Nova Zelândia, designadamente “Echoes From The Pit” ( 1976 ) e “Minstrelsy” ( 1977 ).

Do “folk” ao “rock”, passando por géneros como “jug band”, “spoken word”,  “psych folk” ou “ska-rock steady”, “Drunken Nights in Dublin” é, também por inesperado, um manancial de emoções que o tempo não esmoreceu, ao contrário potenciou.

Se o Atalho prefere todo o génio que o álbum estreia de 1973 encerra? Sem dúvida! Mas este “Drunken Nights in Dublin” é seguramente um grande complemento para o retrato de Thompson enquanto jovem artista. Além de que a versão inclusa do clássico “Dead Flowers” dos Stones é um must.
( 12" EP numerado e limitado a 200 cópias )

Ps: a edição, limitada, encontra-se disponível em versões complementares: Box Set, LP, 12” EP numerado, CD e single 7”.