Li há dias na edição que comemora o quinquagésimo aniversário
da revista gaulesa ‘Rock & Folk’ que pouco tempo antes de falecer, o seu
fundador – Philippe Koechlin -, terá
confidenciado à família: “depois de
conhecer Jim Morrison e Jimi Hendrix, como poderei interessar-me por uma figura
como Robert Smith dos Cure?“.
Compreendo-o em parte. No que respeita à dimensão humana das
figuras em causa, terá provavelmente razão, embora o dinamismo dos tempos não
se compadeça com estaticismos. Discordo no entanto da tese que parece
subjacente à afirmação. Cada geração tem os seus ícones e existem grandes
criadores em todas as épocas.
Atente-se nos Wolf
People. A banda do Bedfordshire leva já cerca de uma década de existência,
período durante o qual publicou um conjunto importante de singles e três álbuns
de referência. O quarto “Ruins” acabado de sair, acrescenta
solidez e maturidade ao talento já evidenciado.
Na sua verdadeira essência, a música dos Wolf People só
poderia ser feita por ingleses. As raízes e o modelo que escolheram recriar são
definitivamente britânicos. Uma constatação óbvia, quer a abordagem seja feita
pelo lado do folk tradicional, quer pelo do blues rock.
No fundo, embora Jack
Sharp continue a sustentar que nunca tinha escutado os primeiros 3, 4
álbuns dos Jethro Tull até fãs e
crítica lhe terem mencionado as semelhanças, a verdade é que a música de “Ruins”,
ainda que contemporânea, estruturalmente evoca aquele extraordinária “mélange”
entre melodias tradicionais britânicas e a visão do blues rock que Ian Anderson
confeccionou na discografia dos Tull até 1971 quando publicou o seminal “Aqualung”.
E os ocasionais exercícios da flauta são um mero pormenor no
meio de toda a avalanche de guitarras, ora delicadas ora distorcidas,
reclamando um lugar no panteão do moderno psych folk-rock. Os impressionantes sete
minutos do épico “Kingfisher” não enganam. Ali está condensado tudo o que
importa na música de Jack Sharp. Talento, inspiração, virtuosismo e atenção às
raízes. Um dos discos do ano.