03/01/17

Wolf People "Ruins"



Li há dias na edição que comemora o quinquagésimo aniversário da revista gaulesa ‘Rock & Folk’ que pouco tempo antes de falecer, o seu fundador – Philippe Koechlin -, terá confidenciado à família: “depois de conhecer Jim Morrison e Jimi Hendrix, como poderei interessar-me por uma figura como Robert Smith dos Cure?“.

Compreendo-o em parte. No que respeita à dimensão humana das figuras em causa, terá provavelmente razão, embora o dinamismo dos tempos não se compadeça com estaticismos. Discordo no entanto da tese que parece subjacente à afirmação. Cada geração tem os seus ícones e existem grandes criadores em todas as épocas.

Atente-se nos Wolf People. A banda do Bedfordshire leva já cerca de uma década de existência, período durante o qual publicou um conjunto importante de singles e três álbuns de referência. O quarto “Ruins” acabado de sair, acrescenta solidez e maturidade ao talento já evidenciado.


Na sua verdadeira essência, a música dos Wolf People só poderia ser feita por ingleses. As raízes e o modelo que escolheram recriar são definitivamente britânicos. Uma constatação óbvia, quer a abordagem seja feita pelo lado do folk tradicional, quer pelo do blues rock.

No fundo, embora Jack Sharp continue a sustentar que nunca tinha escutado os primeiros 3, 4 álbuns dos Jethro Tull até fãs e crítica lhe terem mencionado as semelhanças, a verdade é que a música de “Ruins”, ainda que contemporânea, estruturalmente evoca aquele extraordinária “mélange” entre melodias tradicionais britânicas e a visão do blues rock que Ian Anderson confeccionou na discografia dos Tull até 1971 quando publicou o seminal “Aqualung”.

E os ocasionais exercícios da flauta são um mero pormenor no meio de toda a avalanche de guitarras, ora delicadas ora distorcidas, reclamando um lugar no panteão do moderno psych folk-rock. Os impressionantes sete minutos do épico “Kingfisher” não enganam. Ali está condensado tudo o que importa na música de Jack Sharp. Talento, inspiração, virtuosismo e atenção às raízes. Um dos discos do ano.