05/05/16

Heron Oblivion "S/t"



Existem numerosos exemplos da aplicação prática da teoria gestáltica. Na verdade, não é possível  conhecer o todo observando apenas as partes, pois o conjunto é frequentemente diverso da mera soma daquelas.

Atente-se por exemplo na banda californiana Heron Oblivion. Noel Harmonson e Ethan Miller são veteranos dos Comets on Fire, sendo que o último ainda alimenta os psiconautas Howlin’ Rain. Charlie Saufley assegurou a guitarra nos magníficos Assemble Head in Sunburst Sound e Meg Baird, a mais improvável dos amigos aqui presentes, é tudo aquilo que se sabe: Espers, colaborações várias ( Helena Espvall, Sharron Kraus ) e belíssimos discos a solo.

Com artífices deste calibre “Heron Oblivion” reunia todas as condições para ser um grande disco. É porém muito mais do que isso. É sublime, ou talvez mesmo mais.

A “west coast vibe” está presente ao longo de todo o álbum, funciona como espécie de fio condutor associado ao processo de criação e arranjo dos temas. Uma miríade de “happy trails” que conduzem a paisagens  “pastoral psych” que, ora optam por coloridas vertigens de “feedback”, ora procuram os silêncios da folk.


“Beneath Fields” é particularmente impressivo. Abre celestial, cortesia de Meg Baird, mas rapidamente deriva para as vibrações west coast, catapultado pelas guitarras gémeas de Harmonson e Saufley que, com mestria, gerem a tensão própria do vibrato que John Cipollina inventou há muitas décadas. “Oriar” é tudo isto acrescido de uma bateria tribal e de um feedback pirotécnico.

“Rama” são 10 minutos de pura beleza. A voz e percussão de Meg Baird percorrem um trilho de serenidade e gentileza que mais à frente irá desembocar num cruzamento, onde as guitarras ácidas de Saufley e Harmonson se digladiam, discutindo a prioridade. Imaginem Cipollina em plena altercação com Michio Kurihara e estão lá perto.

“Faro” poderiam ser os Dream Syndicate metamorfoseados de Opal e “Seventeen Landscaps” os Jefferson Airplane em modo “jam session”. A fechar, “Your hollows”, é o paraíso na terra; angelical e inspiradíssimo o canto de Meg, celestial e apocalítico o duelo fratricida das guitarras. Um final perfeito para um álbum mais que perfeito.