A propósito da reedição remasterizada ( em formato de vinilo )
de “Born Sandy Devotional” dos Triffids, recupero alguns dos
comentários que o álbum me mereceu quando da sua publicação.
Fonte: Jornal “A
Capital”, sábado, 11 de Outubro de 1986.
“ … Há muito tempo que
um disco saído da música pop não retratava tão bem uma paisagem geográfica e
social como “Born Sandy Devotional”
dos australianos Triffids. Bastará
que o leitor observe a capa do disco ( fotografia aérea da cidade de Mandurah,
oeste da Austrália ) durante alguns momentos, para perceber que a foto não está
lá por acaso e que os sons que irá encontrar, terão forçosamente a ver com a
paisagem que lhe é sugerida…
“Raining pleasure” e “Treeless
Plain”, os dois álbuns anteriores davam já uma ideia do que poderia ser a
arte dos Triffids. “Born sandy Devotional” é tudo o que os
anteriores prometeram e mais ainda. Trata-se de um daqueles discos que se
confundem com a paisagem onde foram criados…
Um enorme espaço
percorrido pelo sol, por melodias incrustadas na preguiça do tempo; mas também
pelo medo, pela busca, a perseguição e a desolação dos comportamentos humanos.
Uma obra tanto mais verdadeira quanto implicitamente admite não existir o “paraíso
australiano”, antes uma terra que
encerra riqueza, alimenta disparidades, ao mesmo tempo que expressa receios e
desconfianças...
David McComb, o principal
compositor, sugere ter herdado de Jim
Morrison não apenas algumas tonalidades vocais mas também uma cruel
capacidade para exprimir através da poesia tudo o que o estado de espírito
humano pode encerrar em determinados momentos e ambientes …
Quanto à riqueza das
melodias, sejam elas simples ou deliciosamente complicadas, o mais que poderá
dizer-se é que acompanham as “short
stories” imaginadas e escritas por McComb …
“Born Sandy Devotional” é enorme na sua transbordante narrativa.”