2005. Sob o pseudónimo de The Left, Takaakira Goto
publicou “I could stand alone here”, uma colectânea de belíssimas miniaturas
pós-rock. Na altura poucos sabiam que dois anos antes, o mentor dos MONO havia gravado o corpo principal de
“Classical
Punk and Echoes Under the Beauty”. De acordo com o guitarrista, os
temas não soavam a MONO ( não tinham necessariamente de soar ) e como tal ficaram
por concluir e publicar.
Uma dúzia de anos volvidos, Goto regressou ao estúdio para terminar
o projecto. O músico possui um talento inato, capaz de escrever temas que começam
por parecer épicos para rapidamente se transformarem em clássicos. Em partes
iguais, possuem significativas doses de melancolia e experimentalismo,
características que fazem de Goto um dos grandes compositores japoneses.
Algures entre Ryuichi Sakamoto e Robert Fripp, “Classical
Punk and Echoes Under the Beauty” é tão arrojado quanto exaltante. A
marca de água dos MONO está lá ( estranho seria não estar ) mas os pontos de
contacto são residuais. Takaakira Goto tinha razão em 2003, estas composições não
têm muito a ver com o paradigma daquela banda.
Ao pouparem no épico, acrescentam lirismo: definem subtileza,
encantam e são um conforto para os sentidos. Atente-se no caso de “Till the
night comes”; nunca o genial “Starless” dos King Crimsom conheceu homenagem mais calorosa.
Certas sonoridades não se explicam, simplesmente contemplam-se.