“Both sides of the coin” é mais um fantástico exemplo de edição privada
a que ninguém ligou durante décadas, até que um exemplar aterrou no prato do
gira discos de alguém com bom gosto e sensibilidade.
Em 1971, Ellie Daniels
era pouco mais que uma adolescente quando compôs e gravou uma dúzia de
canções tatuadas pelas dúvidas sobre o intelecto, as emoções ou a sexualidade. Suportadas
pela voz, guitarra acústica e ocasional flauta, estas canções, vivem paredes
meias com uma melancolia pueril, são um comovente exemplo do que pode a
criatividade, mesmo que confinada às quatro paredes do quarto da adolescência.
Podiam ser mais que perfeitas caso tivessem sido objecto de
arranjos e produção adequadas? Podiam, mas não seriam tão autênticas. O lamento
de “It’s a long long road” não seria tão lancinante, o lirismo de “Song for a
wilted rose” perder-se-ia, a versão de “Don’t think twice” de Dylan pouca
diferença faria das outras centenas que o tempo esqueceu. E pelo meio coexistem
melodias deliciosas como “For Gro”, “How many miles” ou “Doctor Man”, a última
escrita pelo quase famoso Livingston Taylor.
Numa época em que Laurel
Canyon era o centro do mundo e as rádios se alimentavam de Joan Baez, Dylan, Neil
Young ou Joni Mitchel, era difícil alguém prestar atenção a Ellie Daniels. Não
obstante, “Both sides of the coin” soube envelhecer e mais de quatro
décadas volvidas manteve a patine em que as emoções o envolveram.