Um novo cd de Nick Saloman é sempre motivo de grande
satisfação. Dois novos cds de Nick
Saloman são razão para celebração.
“White Numbers” o mais recente Bevis Frond, é duplo e começa exactamente onde “Leaving London” se quedara, há cerca
de dois anos.
Em regra, as criações de Saloman têm uma característica que
as diferencia das demais. São sensoriais na essência e abrasivas na forma. Um
desiderato que serve tanto para os temas eléctricos como para as baladas
acústicas.
E aqui, por paradoxal que possa parecer, Saloman aproxima-se e muito dessa outra alma
penada ( mais um deserdado da sorte ) que é Rich Hopkins. Este, seja com
os Sand Rubies, os Luminarios ou a solo, persegue uma narrativa que privilegia
os sentidos e as emoções, muito mais do que o lirismo e a poesia desgarrados da
realidade. Hopkins vem de Tucson no Arizona e tem o deserto como horizonte.
Saloman é um londrino de gema e, embora o cenário seja radicalmente diferente,
as motivações não são tão diversas assim.
“White Numbers” é um grande registo de rock psicadélico puro e
duro. Calibrado. As peças acústicas, cirurgicamente intercaladas nas
sequências eléctricas como sempre deve
ser. E no final, 24 temas depois ( o
último, uma longa “electric jam session” ) a única coisa que apetece é voltar
ao inicio. O que é dizer tudo, ou quase.