16/06/13

Beautify Junkyards "S/t"


 
Pode até parecer, mas realizar um disco de versões, exclusivamente, é tudo menos fácil. Existe um ponto de partida, é verdade. Porém o risco é enorme, eventualmente potenciado pela dimensão ou popularidade do que se pretende recriar. Porque existe um paradigma e porque se pode abordar o tema por duas vertentes distintas: a versão pura e dura, apenas com as alterações que  ao tempo, espaço e protagonistas dizem respeito e, aquela outra, que mexe no caldeirão das idiossincrasias, e que por via disso altera a personalidade e a silhueta das canções. Das primeiras temos exemplos profusos, quase sempre paredes meias com revivalismos bacocos e/ou oportunismos “à la carte”. No que concerne às últimas, a contabilidade é mais escassa, porém mais recompensadora. Peguem, por exemplo, numa colectânea de versões curada por Mark Kozelek e tentem chegar aos originais sem consultar as informações constantes no booklet …

Para a sua estreia em formado CD/LP, os Beautify Junkyards escolheram  a segunda opção. Faz todo o sentido, sobretudo se tivermos em conta  o tremendo peso histórico das nove canções escolhidas. Grande parte delas foram já objecto de versões versões, por vezes sem grande alma ou chama dignas de nota. O que aqui interessava era sair da zona de conforto que a grandeza dos temas proporciona, para chegar a algo de diferente. Eventualmente capaz de retratar a forma como, várias gerações depois, um grupo de músicos lusos olha para um conjunto de canções entalhadas na história, muito provavelmente todas elas escritas muito antes de os próprios terem nascido.

 
Dito isto, convirá sublinhar o bom gosto das escolhas. E se Kraftwerk ou Mutantes não têm grande airplay aqui pelo Atalho, o mesmo já não se passa com amigos mais que prováveis como Vashti Bunyan, Nick Drake, Roy Harper, Heron, Bridget St. John, Linda Perhacs ou até mesmo Donovan.

Quanto ao mais, diria que “From the morning” veste-se de gala para perpetuar Nick Drake, “Rose hip November” leva-nos de volta até ao álbum perdido de Vashti Bunyan, as novas roupagens de “Yellow Roses” são tão coloridas quanto as do original dos Heron, “Ask me no questions” e “Parallelograms” homenageiam bem St. John e Perhacs, enquanto esse hino à vida que é “Another day”, tem aqui uma versão bem mais pungente que a de Andrew John em “The machine stops” e que compara bem coma prestação dos This Mortal Coil de “It’ll end in tears”.  

Aparentemente, o futuro tem tudo para ser brilhante. Esperemos que assim venha a ser.

Nota: com o devido agradecimento a João Branco Kyron.