31/05/13

Permanent Clear Light "Beyond these things"


 
Os bons discos podem não ser necessariamente apelativos, da mesma forma que registos menos bons podem ser excelentes companhias. Mas quando um bom disco é imediatamente agradável e pega de estaca, isso sim é noticia.
Os finlandeses Permanent Clear Light, conseguem o pleno com “Beyond these things”, o cd de estreia do projecto de Arto Kakko, Matti Laitinen e Markku Helin, veterenos da cena nórdica e fervorosos adeptos da linguagem psicadélica.

O single “Higher than the sun” já prometia e foi devidamente referenciado aqui no Atalho. O cd porém permite uma melhor explanação dos conceitos e arquitecturas musicais utilizados pelo trio.  Os temas ( oito ) são razoavelmente longos, consistentes, diversificados e cativantes. A matriz escolhida, localiza-se algures na fronteira entre o psicadelismo e a infância do progressivo, sendo que o bucolismo e a ruralidade do som de Canterbury paira nos poucos espaços que ficam por preencher.



Dito isto, convirá referir que a “pièce de résistance” permanece “Higher than the sun”, agora “progressivamente” estendida até aos 9m e 19s; contudo, logo a abrir,  “Constant Gardener” diz ao que vem. Remete-nos para o universo adulto ( mid 70s ) dos Caravan e, adicionalmente, o violino relembra a String  Driven Thing e, acto contínuo, os Van der Graaf de “The quite zone/The pleasure done” ( nada que espante, tendo em conta a admiração que Markku Helin nutre por Peter Hammill ). “Ribes Nigrum” veste as mesmas tonalidades, e serve de ante-câmara para o que vem a seguir: “Harvest Time” e “Higher than the Sun, Astral Travel”. Em conjunto constituem  um poderoso cocktail de psicadelismo sem tempo. Parte dos Floyd que importam ( “Ummagumma”, “More”,  Meddle”) passa por “In the Land of Grey and Pink” ( Caravan ) e,  de acordo com os meus ouvidos, vai terminar em “Church” e “Remote Luxury” dos Church ( talvez por isso Steve Kilbey tenha expressado publicamente a sua admiração por PCL ).
“And the skies will fall” é uma belíssima melodia construída sobre vibrações orientais e até se lhe perdoa os ecos das vozes Beach Boys pelo bem que soa. “Love gun” e o instrumental “Skirmish” posicionam-se num patamar ligeiramente inferior. Porém “Weary Moon” eleva de novo a fasquia e, por detrás de uma flauta e de um banjo bem puxados à frente, quase me pareceu vislumbrar sombras do edifício sonoro que Dennis Wilson construiu em “Pacific Ocean Blue”. Uma excelente referência portanto.

Repito, bom e simultaneamente muito agradável. Falar-se-á bastante de “Beyond these things”, seguramente.
Nota: um especial agradecimento a Markku Helin por se ter lembrado do Atalho