Os bons discos podem não ser necessariamente apelativos, da
mesma forma que registos menos bons podem ser excelentes companhias. Mas quando
um bom disco é imediatamente agradável e pega de estaca, isso sim é noticia.
Os finlandeses Permanent
Clear Light, conseguem o pleno com “Beyond these things”, o cd de estreia
do projecto de Arto Kakko, Matti Laitinen e Markku Helin, veterenos da cena
nórdica e fervorosos adeptos da linguagem psicadélica.
O single “Higher than the sun” já prometia e foi devidamente
referenciado aqui no Atalho. O cd porém permite uma melhor explanação dos
conceitos e arquitecturas musicais utilizados pelo trio. Os temas ( oito ) são razoavelmente longos,
consistentes, diversificados e cativantes. A matriz escolhida, localiza-se
algures na fronteira entre o psicadelismo e a infância do progressivo, sendo
que o bucolismo e a ruralidade do som de Canterbury paira nos poucos espaços
que ficam por preencher.
Dito isto, convirá referir que a “pièce de résistance”
permanece “Higher than the sun”, agora “progressivamente” estendida até aos 9m
e 19s; contudo, logo a abrir, “Constant
Gardener” diz ao que vem. Remete-nos para o universo adulto ( mid 70s ) dos
Caravan e, adicionalmente, o violino relembra a String Driven Thing e, acto contínuo, os Van der
Graaf de “The quite zone/The pleasure done” ( nada que espante, tendo em
conta a admiração que Markku Helin nutre por Peter Hammill ). “Ribes Nigrum”
veste as mesmas tonalidades, e serve de ante-câmara para o que vem a seguir:
“Harvest Time” e “Higher than the Sun, Astral Travel”. Em conjunto constituem um poderoso cocktail de psicadelismo sem tempo.
Parte dos Floyd que importam ( “Ummagumma”, “More”, “Meddle”) passa por “In
the Land of Grey and Pink” ( Caravan ) e, de acordo com os meus ouvidos, vai terminar
em “Church”
e “Remote
Luxury” dos Church ( talvez por isso Steve Kilbey tenha expressado
publicamente a sua admiração por PCL ).
“And the skies will fall” é uma belíssima melodia construída
sobre vibrações orientais e até se lhe perdoa os ecos das vozes Beach Boys pelo
bem que soa. “Love gun” e o instrumental “Skirmish” posicionam-se num patamar
ligeiramente inferior. Porém “Weary Moon” eleva de novo a fasquia e, por detrás
de uma flauta e de um banjo bem puxados à frente, quase me pareceu vislumbrar
sombras do edifício sonoro que Dennis Wilson construiu em “Pacific Ocean Blue”. Uma
excelente referência portanto.
Repito, bom e simultaneamente muito agradável. Falar-se-á
bastante de “Beyond these things”, seguramente.
Nota: um especial
agradecimento a Markku Helin por se ter lembrado do Atalho