26/03/13

Hollow Ox "Sunya"


 
Muito embora separadas em longitude, nunca Manchester e Nashvile estiveram tão próximas; através da música dos Hollow Ox. A ideia tinha já ficado mais ou menos latente no inicio de 2009 quando a banda de Cole Street publicou “Pleiades”. “Sunya” acabado de publicar   ( http://hollowox.bandcamp.com  ) em formato digital e a aguardar a edição física em cd confirma e sublinha aquela asserção.
Poderemos nem sequer estar a falar de uma opção. Poderá muito bem tratar-se de uma mera coincidência, mas para quem como o Atalho procura conhecer o passado para melhor compreender o presente, aquilo que se escuta em “Sunya”, e que é muito bom, não permite ignorar os sons do pós-punk e os ecos da Manchester do inicio dos 80s. É de facto uma condicionante óbvia para quem escreve estas linhas, agravada pelas memórias recônditas e agora recuperadas dos concertos a que assisti, designadamente  de Vini Reilly e dos Chameleons.

Pleiades” foi como que uma pedrada no charco ( http://atalhodesons.blogspot.pt/2009/08/hollow-ox-pleiades.html ). Surpreendeu-me e muito. Coisa já rara nos tempos que correm. À componente orgânica, adicionava uma faceta cósmica que porventura foi procurar a respectiva identidade à kosmische musik e/ou a projectos instrumentais mais recentes como Stars of Lid ou Windy & Carl.

 
Conjecturas de lado, a verdade dos factos obriga a dizer que “Sunya”, ainda que não possuindo a intensidade épica de “Pleiades” se revela um magnífico “follow up”; ou dito de outra maneira supera o sempre difícil teste do “segundo disco”. Oito temas, o mais longo dura 9m 55s, o mais curto 5m 22s. A tudo o que atrás foi dito, e que para quem conhece os nomes referidos facilmente entenderá que falamos de guitarras que se expressam lentamente mas com tremenda veemência, haverá que juntar uma outra forma de expressão: um subtil feedback, aqui e ali, ainda demasiado envergonhado, diria.     
Sunya” tem alma. E grande. É inteligente, planante, pós-rock quanto baste  ( vidé o tema de abertura “Title” ), utiliza as vozes com parcimónia – como se de mais um instrumento se tratasse -, e é sobretudo muito eficaz na dependência que provoca no ouvinte. Aparenta ser inofensivo nas primeiras audições, torna-se aditivo a partir do momento em que estas se vão acumulando. E no final, depois de conhecermos todos os ângulos que estas guitarras a um tempo serenas e urgentes desenham, encontramos um horizonte que para além de belo é sobretudo lírico.

O cd, logo que publicado, irá ser um excelente companheiro de caminhada. O que para o Atalho é dizer muito.
Ps: com um agradecimento especial a Cole Street.