A simplicidade, quando genuína, veste quase sempre a pele de
uma beleza que se faz perene e incontornável. Na música, como noutras artes, simples
é por norma sinónimo de mais. Mais qualidade, mais futuro, mais sensibilidade, mais
interacção, mais história…, mais tudo. A história está repleta de estórias de grandes
produções, hipérboles que fizeram as manchetes da sua época, mas esquecidas ou datadas
décadas volvidas. À medida que o tempo
avança, os passeios vão ficando repletos de detritos. Todos eles obras importantíssimas
à nascença, absolutos enfados quando a cronologia principia a cumprir o seu
papel. Sou suspeito porque nunca suportei os Beatles enquanto entidade mas,
hoje, quase 50 anos passados, optar por “Sergeant
Pepper’s” ou “Astral
Weeks” por exemplo, suscitará alguma dúvida?
Tudo isto a propósito do primeiro cd a solo (creio) de Diana Collier, uma das vozes do
projecto folk-rock The Owl Service
de Steven Collins. Com uma discografia
ainda curta mas personalizada e bastante consistente, porque solidamente ancorada na
tradição musical inglesa, Collins tem sabido rodear-se das vozes que melhor
tipificam a matriz do projecto e que por essa razão melhor o servem. Quando se
escuta “A Garland of Song” por exemplo, percebe-se que Shirley Collins e Anne Briggs são tremendíssimas influências, logo é natural que as
vozes a que recorre não as contradigam.
Neste âmbito, Nancy
Wallace e Diana Collier, cumprem bem o seu papel. Wallace já tem por aí a
circular registos a solo ( procurem o link aqui ao lado ) Collier iniciou-se
com “All
mortals at rest”, uma edição privada, limitada e que
num futuro mais ou menos longínquo fará as delícias dos colecionadores.
São sete temas, todos cantados a cappella. Seis deles objecto
de versões várias e diferenciadas ao longo dos anos. Um, mais recente,
publicado por Alasdair Roberts em “Spoils”.
E aqui regressamos à simplicidade. Algo que é quase sempre inerente ao canto a
cappella, embora não necessariamente.
Quando se fala de Shirley Collins todas as comparações são
descabidas, abusivas diria. Não obstante, em “All things are quite Silent” embora sabendo-se
que a voz é de Diana Collier é quase impossível não recuar até à memória do
canto inigualável de Shirley Collins. A melodia é bela, a versão simples mas rica;
tocada pela sinceridade da voz e da interpretação.
E o padrão mantém-se nos restantes temas. Pouco mais de 21
minutos mágicos, durante os quais desfilam os nomes e as heranças das já
referidas Collins e Briggs, mas também de Young Tradition, Peter Bellamy,
Martin Carthy, Steeleye Span ou Current 93. Arrisquem e serão recompensados (. http://stonetaperecordings.bandcamp.com/track/all-things-are-quite-silent
).