13/03/13

Diana Collier "All mortals at rest"


A simplicidade, quando genuína, veste quase sempre a pele de uma beleza que se faz perene e incontornável. Na música, como noutras artes, simples é por norma sinónimo de mais. Mais qualidade, mais futuro, mais sensibilidade, mais interacção, mais história…, mais tudo.   A história está repleta de estórias de grandes produções, hipérboles que fizeram as manchetes da sua época, mas esquecidas ou datadas décadas volvidas.  À medida que o tempo avança, os passeios vão ficando repletos de detritos. Todos eles obras importantíssimas à nascença, absolutos enfados quando a cronologia principia a cumprir o seu papel. Sou suspeito porque nunca suportei os Beatles enquanto entidade mas, hoje, quase 50 anos passados, optar por  Sergeant Pepper’s” ou  Astral Weeks” por exemplo, suscitará alguma dúvida?

Tudo isto a propósito do primeiro cd a solo (creio) de Diana Collier, uma das vozes do projecto folk-rock The Owl Service de Steven Collins.  Com uma discografia ainda curta mas personalizada e bastante  consistente, porque solidamente ancorada na tradição musical inglesa, Collins tem sabido rodear-se das vozes que melhor tipificam a matriz do projecto e que por essa razão melhor o servem. Quando se escuta “A Garland of Song” por exemplo, percebe-se que Shirley Collins e Anne Briggs são tremendíssimas influências, logo é natural que as vozes a que recorre não as contradigam.

Neste âmbito, Nancy Wallace e Diana Collier, cumprem bem o seu papel. Wallace já tem por aí a circular registos a solo ( procurem o link aqui ao lado ) Collier iniciou-se com “All mortals at rest”, uma edição privada, limitada e que num futuro mais ou menos longínquo fará as delícias dos  colecionadores.

São sete temas, todos cantados a cappella. Seis deles objecto de versões várias e diferenciadas ao longo dos anos. Um, mais recente, publicado por Alasdair Roberts em “Spoils”. E aqui regressamos à simplicidade. Algo que é quase sempre inerente ao canto a cappella, embora não necessariamente.  

Quando se fala de Shirley Collins todas as comparações são descabidas, abusivas diria. Não obstante, em  “All things are quite Silent” embora sabendo-se que a voz é de Diana Collier é quase impossível não recuar até à memória do canto inigualável de Shirley Collins. A melodia é bela, a versão simples mas rica; tocada pela sinceridade da voz e da interpretação.

E o padrão mantém-se nos restantes temas. Pouco mais de 21 minutos mágicos, durante os quais desfilam os nomes e as heranças das já referidas Collins e Briggs, mas também de Young Tradition, Peter Bellamy, Martin Carthy, Steeleye Span ou Current 93. Arrisquem e serão recompensados (. http://stonetaperecordings.bandcamp.com/track/all-things-are-quite-silent ).