Há semanas que ando a escutar “A
wonder working stone”, silenciosamente. Gosto tanto que tenho resistido
a partilhá-lo. Uma atitude que se encontra nos antípodas de tudo o que o Atalho
significa e totalmente ao invés do espírito que presidiu à sua criação.
Mas chegou finalmente a altura da
respectiva partilha. Do meu ponto de vista, trata-se de um dos mais marcantes e
porventura históricos registos da folk britânica deste século. E estou a pesar
cada uma das palavras.
Não existe no novo cd de Alasdair Roberts um único momento
débil. São dez peças musicais ( hesito em chamar-lhes apenas canções ) que
ocupam um espaço único no tempo e na narrativa da música de inspiração
tradicional contemporânea. Uma atmosfera de “Renaissance Fair”, claramente
pagã, mesclada por arquitecturas antigas ( medievais ) que conduzem a
resultados únicos, muito mais convincentes que companheiros de viagem como
Trembling Bells por exemplo. E aqui chegados,é impossível não relembrar a
herança de outras lendas escocesas como a Incredible
String Band de Mike Heron ( pelo lado da melodia ) e Robin Williamson (
pela inspiração e experimentalismo ).
Semanas de audições silenciosas,
dizia. Porque tinha de ser assim. A profusão de pistas e a riqueza estrutural
que cada tema transporta, são tais que ao primeiro contacto, aqueles surgem
difusos e aparentemente pouco distintos uns dos outros. É necessário tempo e
paciência para que o processo desconstrutivo
tenha lugar e possa ser possível escutar cada nuance, cada melodia, cada
recanto interpretativo, e no final se possa usufruir de toda a riqueza e competência ( instrumental
e vocal ) que Alasdair Roberts tem para oferecer.
Salientar qualquer um dos temas seria,
como se infere do que atrás ficou dito, despiciendo. O álbum vale como um todo
e é como um todo que deve ser escutado e saboreado. Também porque é seguramente
a melhor colectânea que Alasdair Roberts
já gravou.