19/02/13

Yo La Tengo "Fade"


Já não frequentava os YLT há um anos, mas ao escutar “Fade” recordei uma ideia expressa por Denzel Washington numa entrevista antiga.  A frase, que jamais esqueci, concisa e certeira como é timbre no actor, objectivava: “à medida que vamos avançando na vida tornamo-nos mais conservadores, temos mais coisas para conservar…”.  Lapidar. Aplica-se que nem uma luva ao novo Yo La Tengo.

E que saudades de álbuns como “New wave hot dogs”, “President”, “I can hear the heart beating as one” ou “Fakebook”.  Onde antes existia experimentalismo, disposição para  arriscar a partir de bases sólidas e testadas ( Velvet Underground por exemplo ) e um delicioso “indie flavour”, existe hoje conservadorismo e desígnio de fazer igual não correndo demasiados riscos. A chama poderá extinguir-se dentro em breve.

A abrir, “Ohm” é assaz animador. Uma peça de indie rock com a matriz YLT, vestida por uma sonoridade que transpira a Nova Iorque. E os cerca de 7 minutos que dura surgem curtos, demasiado curtos.  Depois “Fade” entra numa espécie de albergue espanhol; melodias de sacarina (“Well you better”), bossa nova de sabor requentado ( “Is that enough” ) e sonoridades melosas que ao Atalho mais parecem ter saído do seu ambiente natural: o hall de um bar de hotel.

Nos momentos mais felizes ( “Paddle forward” ou “I’ll be around”) é quase como voltar aos IDA de “Will you find me” ou a Sarah Dougher  de “The walls ablaze”( não necessariamente maus locais, para a época ) mas se se pretendia  olhar para o retrovisor, neste quadro musical, seria sempre  preferível relembrar os Yo La Tengo ou por exemplo,  “Silver” dos Clarissa.

E é preciso esperar pelo fim para ouvir de novo o trio de Ira Kaplan. “Before we run” ( o título é quase premonitório ) é junto com “Ohm” o melhor tema de “Fade”. E não deixa de ser muito significativo o facto de um ter sido colocado a abrir e o outro exactamente a fechar. Um simples EP teria sido bem mais apropriado.