Já não frequentava os YLT há um anos, mas ao escutar “Fade”
recordei uma ideia expressa por Denzel
Washington numa entrevista antiga. A frase, que
jamais esqueci, concisa e certeira como é timbre no actor, objectivava: “à medida que vamos avançando na vida tornamo-nos mais conservadores, temos
mais coisas para conservar…”. Lapidar.
Aplica-se que nem uma luva ao novo Yo La
Tengo.
E que saudades
de álbuns como “New wave hot dogs”, “President”, “I can hear the heart
beating as one” ou “Fakebook”. Onde antes existia experimentalismo, disposição para arriscar a partir de bases sólidas e testadas (
Velvet Underground por exemplo ) e um delicioso “indie flavour”, existe hoje conservadorismo
e desígnio de fazer igual não correndo demasiados riscos. A chama poderá extinguir-se
dentro em breve.
A abrir, “Ohm” é assaz animador. Uma peça de indie rock com a
matriz YLT, vestida por uma sonoridade que transpira a Nova Iorque. E os cerca
de 7 minutos que dura surgem curtos, demasiado curtos. Depois “Fade” entra numa espécie de albergue
espanhol; melodias de sacarina (“Well you better”), bossa nova de sabor requentado
( “Is that enough” ) e sonoridades melosas que ao Atalho mais parecem ter saído
do seu ambiente natural: o hall de um bar de hotel.
Nos momentos mais felizes ( “Paddle forward” ou “I’ll be
around”) é quase como voltar aos IDA de “Will you find me” ou a Sarah Dougher de “The walls ablaze”( não necessariamente maus
locais, para a época ) mas se se pretendia olhar para o retrovisor, neste quadro musical,
seria sempre preferível relembrar os Yo
La Tengo ou por exemplo, “Silver” dos
Clarissa.
E é preciso esperar pelo fim para ouvir de novo o trio de Ira
Kaplan. “Before we run” ( o título é quase premonitório ) é junto com “Ohm” o
melhor tema de “Fade”. E não deixa de ser muito significativo o facto de um ter
sido colocado a abrir e o outro exactamente a fechar. Um simples EP teria sido
bem mais apropriado.