27/09/12

Steffi Thiel (& Michael Cashmore) "Late but never"


The simpler the better”, é um velho aforismo de que o Atalho muito gosta e que procura  ter sempre presente. Porque é verdade na maioria das vezes e também porque serve para refrear a tentação de valorizar a complexidade em detrimento do singelo. Daí que por vezes seja muito gratificante escutar discos como “Late but never”.

O conhecimento deste registo semi-obscuro,  criado no talento de Steffi Thiel ( textos e voz ) com a colaboração de Michael Cashmore  (instrumentos  e produção),  chegou-me por via de um leitor e amigo, a quem agradeço.

Steffi Thiel é uma jovem cantora e compositora alemã cujo trabalho talvez nunca tivesse visto a luz do dia, não fora o interesse de Michael Cashmore e David Tibet (Current 93). O primeiro porque colaborou na execução, o segundo porque decidiu publicá-lo na sua editora. “Late but never” é um daqueles discos que habitam as sombras e vivem da e na intimidade do autor. Aparentemente autobiográfico, mas que ao tornar-se familiar, ganha uma perspectiva universal, este primeiro registo de  Thiel, evoca o trabalho da compatriota Sibylle Baier. Tivesse esta contado com o apoio de um outro qualquer  Michael Cashmore, quando entre 1970 e 73, gravou as canções que viriam a dar origem a “Colour Green” e talvez  estas pudessem ter sido publicadas em tempo, e não apenas em 2005.

Late but never” acolhe um conjunto de melodias de uma serenidade quase celestial, envolvendo textos simples e pungentes. Reais, porque saídos de um cenário  familiar: o  quotidiano – “Tonight is so quiet/and round the paper mil/the car park lies so still/a few raindrops fall from a cloud/her vague shapes billow and lace/and I dream I long to see your eyes cry watercolour skies”, (“Tonight”).

Excelente matéria prima, devidamente aprimorada e valorizada pela minúcia  instrumental de Cashmore. E, no final, após contínuas audições, canções como “Tonight”, “Hearts fear”, “Late but never”, “Hello tangerine” ou “A voice through a cloud”, tornam-se amigas,  cúmplices. Bandas sonoras do nosso dia a dia. No fundo a melhor certificação para a sua autenticidade.