21/05/12

Jardins do Paraíso XXXI ( Talk Talk )


As grandes obras e os músicos que lhes estão na origem, raramente andam nas bocas do mundo.
A história da música popular dos últimos 50 anos está repleta de exemplos disso mesmo. 

Casos concretos?

Que tal,  If I could only remembre my name” ( David Crosby ), “Astral Weeks” ( Van Morrison ), “Little Feat” ( Lowell George ), “David Ackles” ( David Ackles ), “Miss America” ( Mary Margaret O’Hara ), “Fool’s mate” ou “Over” ( Peter  Hammill ), “Stormcock” ( Roy Harper ) ….
Spirit of Eden” dos Talk Talk ( basicamente um projecto de Mark Hollis ) é mais um dos proeminentes casos a juntar aquela(s) lista(s). Em 1988, ao quarto álbum, a banda britânica terá inventado aquele que para o Atalho constitui o “Astral Weeks” dos anos 80.


Pós-rock metafísico, espiritual, sensorial. “Spirit of Eden” é feito de uma beleza e singeleza desconcertantes. Como se isso fosse em si mesmo uma tarefa fácil, Mark Hollis (depois de ter criado semi-hits adequados à época como “It’s my life” ou “Colour of Spring”), mergulhou num espaço experimental, para onde convocou o pop, o folk, o jazz, o progressivo, o blues e o clássico modernos. Ao trabalhar com especial minúcia, artesanalmente,  partículas de todos estes elementos, construiu uma tapeçaria  sonora, simultâneamente urbana e pastoral que o tempo, qualquer que ele seja, jamais conseguirá apagar ou fazer esquecer.
“The Rainbow”, “Eden”, “Desire” , “Inheritance”, “I believe in you” e  “Wealth”, apenas seis temas. A totalidade de “Spirit of Eden”. Um palco onde coabitam a metafísica e aquela atmosfera intensa e espiritual, ambas tão tipicamente inglesas, que podemos encontrar em muitas das canções de Nick Drake, John Martyn, Sandy Denny, Bill Fay ou Roy Harper. Sensações que transmitem alegria, profundidade, e que nos deixam felizes e eufóricos por estarmos vivos.

A recente reedição respeita a personalidade de “Spirit of Eden” Não existem temas extras ou inéditos que, no caso presente, só podiam contribuir para empobrecer e desvirtuar o original. Até neste aspecto a inteligência e o respeito pela arte prevaleceram.

O Paraíso, a existir, deve ser algo de muito parecido com isto …