John Cale, o meu iconoclasta favorito, tem prometido um novo cd lá mais para a primavera. Para o bem ou para o mal, só mais tarde o saberemos, trata-se de um dos discos mais aguardados do ano.
Entretanto, há um par de meses, circula já por aí “EP: Extra Playful” o qual inclui 5 novos temas na melhor tradição vintage do autor. Ou, por outras palavras, canções marcantes, alinhadas com a vida, logo intemporais.
Todos aqueles que assistiram aos concertos portugueses da passada primavera irão reconhecê-los de imediato. “Say hello to the future and goodbye to the past” (“Catastrofuk”) é apenas mais uma prova da lucidez, de um eterno inovador, que não hesita em recorrer à violência verbal e ao caos sonoro para nos fazer sair da nossa letargia e zonas de conforto pequeno burguesas; e aqui é pelo menos legitimo suspeitar se Cale não estará já, ainda que metaforicamente, a antecipar o nosso próximo futuro.
“Whaddya mean by that” retoma a faceta mais melódica e amigável do galês, mas “make no mistake”, o texto é tudo menos inócuo, porque isso Cale não conseguirá nunca ser. O espelho é o interlocutor da alma e aquilo que vemos através dele nem sempre é o que mais gostaríamos. Sem remissão, resta-nos continuar para um “Hey Ray” algo desalinhado musicalmente, embora fiel aos eventos que a personagem, fictícia ou não, testemunhou nos últimas 40 anos.
“Pile a l’heure” e “Perfection” oscilam entre a herança de “Fear” e a atmosfera proto-funk de “BlackAcetate”. E no fim “EP: Extra Playful” deixa a pairar uma expectativa boa relativamente ao que poderá vir por aí. Se o álbum alinhar por este diapasão, é mais do que legítimo começar a sonhar com um novo “Honi Soit”. Isto porque “Paris 1919” ou “Music for a new society” embora diferentes e porventura até contraditórios, estão muito mais lá para cima. Algures na estratosfera.