Existem momentos na vida onde, quando o lado obscuro da lua parece não ter fim, uma palavra amiga, um pequeno gesto de solidariedade, uma simples canção, podem significar a redenção.
“Gracious tide, take me home” é, depois de vários EPs, o cd estreia dos Lanterns on the Lake, um sexteto de Newcastle que mescla as mais recônditas raízes do folk inglês, com os grandes espaços que só um ecrã cinemascope pode proporcionar.
Confuso? Imaginem a sinceridade e transparência do canto inglês - tradicional ou não - ( June Tabor, Cocteau Twins, são duas referências óbvias ), as melodias em tom sépia de Mazzy Star, acrescentem-lhe o amplo paradigma instrumental Sigur Ros e estão quase lá.
Nem a propósito, “You’re almost there” é seguramente uma das preciosidades do ano e “Keep on trying” o protótipo da canção feita solidariedade e esperança, sons e emoções que conquistam pela cumplicidade/proximidade, valores que aqui como no dia a dia são bem mais importantes que a inovação ou o brilhantismo, por muito necessários e desejáveis que possam ser. A voz e a melancolia dos textos de Hazel ( hello Hope Sandoval ) atravessam todo o conjunto das 12 canções ( nem sempre homogéneas há que reconhecer ), que nos remetem para paisagens naturais e/ou espirituais de uma grande beleza sensorial. Confiram-se por exemplo “Ships in the rain”, “Blanket of leaves” ou “I love you, sleepyhead”. “Gracious tide, take me home” é um disco que nos reconforta no ficar mas que em simultâneo nos impele a partir, nesse sempre complicado embora delicioso puzzle que são os conflitos de emoções. Priceless!