The Feelies "Here Before"

Quando, graciosamente, o baixo de Brenda Sauter começa a saltitar por entre o “jingle jangling” das guitarras de Bill Million e Glenn Mercer no tema de abertura do novo Feelies , num ápice tudo fica perdoado. E aqui o perdoar significa esquecer uma ausência de 20 anos, uma vez que o anterior “Time for a witness” data de 1991.

Vinte anos onde diferentes parcelas dos Feelies se metamorfosearam em várias side bands e Glenn Mercer publicou o excelente “Wheels in motion”. Porém um demasiado longo espaço de tempo, onde estiveram ausentes a magia e aquele som tão peculiar, feito de subtilezas várias, talento, independência e, acima de tudo, muita inteligência.

“Here before” já fez várias centenas de kms no meu carro ( por esta altura o respectivo leitor de CDs já deve odiar-me ); quando ligo o MP4, este já sabe de antemão qual o ficheiro da biblioteca onde se deve posicionar. Ando nisto há 3 semanas. Pior. Tudo indica que vou necessitar de procurar ajuda especializada pois a coisa não dá mostras de melhorar.

Estou absolutamente viciado em “Nobody knows”, “Should be gone”, “Again today”, “When you know”, “Morning comes” … and so on, and on …; pequenas peças de indie-rock, construídas sobre cabouco Velvet Underground, suportadas por alicerces Dream Syndicate e delicadamente rebocadas por materiais pop / paisley-underground.

Por natureza e formação, o Atalho reverencia a história e respeita a memória. Não tenho pois a menor dúvida que o primeiro Feelies ,“Crazy Rhythms” ( 1980 ), foi um dos discos mais importantes da sua geração; pelo que significou na época mas sobretudo pela forma como ajudou a definir o futuro.

Hoje porém se fosse compelido a escolher, optava por “Here Before” sem pestanejar. Está lá tudo: a iconoclastia, o pioneirismo, a independência, e aquele humor auto-crítico que só a maturidade confere e a experiência permite.

O aviso fica feito. Sabem agora o que têm de fazer. Se a história se repetir, 20 anos é uma eternidade. Tão cedo não irão tropeçar num disco tão saboroso.