Paris, 15 Abril 1981. Naquele fim de tarde invulgarmente ameno para a época do ano no local, o João Lisboa e eu atravessámos a cidade em direcção ao “11º arrondissement”. O destino era o número 50 do Boulevard Voltaire. O objectivo, assistir ao concerto parisiense da tournée de suporte ao recém-editado “Honi soit”.
Ao transpor o átrio do Bataclan nenhum de nós podia imaginar o que se iria passar a seguir no palco do velho teatro.
Durante cerca de 1 hora, entre o piano eléctrico e a guitarra, Cale não se preocupou em fazer prisioneiros. “Fighter Pilot” e “Wilson Joliet” seguiram o rasto das chamas e a coisa só “amenizou” – relativamente - com “Streets of Laredo” e “Riverbank”.
Depois disso, assisti a vários concertos do “big man”, todos diferentes e meritórios. Porém não me recordo de nenhum que se tenha sequer aproximado do cataclismo que o Bataclan esteve perto de sofrer naquele fim de tarde primaveril. Talvez por que uma tal performance seja irrepetível.
Não obstante, no passado sábado assisti em Torres Novas a um grande concerto de John Cale. Passaram 30 anos desde aquela tarde louca do Bataclan. O homem carrega nos ombros 68 anos de lenda. Uma realidade física que já não é possível disfarçar. Naturalmente a energia não é nem podia ser a mesma. No entanto a intensidade, aquele sentimento que o galês coloca em tudo o que faz, está lá mais presente do que nunca.
A abrir “Heartbreak Hotel” surgiu algo descaracterizado, mas as coisas cedo entraram no trilho com “Hush”, “Mailman” e “Hey Ray”. “Catastrophic” e “Whaddya mean by that” foram excelentes surpresas e “Amsterdan” esteve majestosa como de costume. “Guts” e, sobretudo, “Pablo Picasso” mostraram como é fácil a um grande músico retirar o melhor de três instrumentistas jovens ( banda de suporte ) e promissores. “Chorale” foi o encore surpresa , quando o Teatro Virginia esperava “Close watch”.