Por momentos cheguei a temer que para apreciar verdadeiramente “Ted Lucas” fosse necessário estar pedrado.
Ao longo de anos habituei-me a conviver com inúmeras referências elogiosas ao disco. Porém, quando finalmente tive oportunidade de escutar a recente reedição, ao fim de 3 / 4 músicas, questionei-me sobre a razão de tantos comentários superlativos.
Ted Lucas viveu a maior parte da sua vida artística em Detroit. Em meados de 1965 liderava os Spike Drivers e, anos mais tarde integrou os Misty Wizards e os Horny Toads. Apesar de um pequeno conjunto de singles prometedores, o sucesso, seja lá o que isso for, andou sempre arredio e Lucas só entraria no radar dos apreciadores do folk-rock psicadélico muito mais tarde, já no rescaldo da publicação ( em 1975 ) do álbum homónimo na sua editora OM. O design/artwork da capa – autoria de Stanley Mouse –, ajudou certamente à criação do pequeno mito, acabando anos volvidos por estar na origem do logótipo dos insuportáveis Journey.
“Ted Lucas” principia da pior maneira. “Plain & Sam & Simple melody” e “It’s so easy” são, que me recorde, dos mais débeis temas de abertura para um disco com um tão grande capital de elogios. “Now that I know” é uma balada aceitável; “”Find a way” e “Baby where are you” pouco mais que inócuas e, a terminar o lado A, “It’s so nice to get stoned” ( lá está ! ) é apenas assustadora.
Lado B. A coisa só pode melhorar. “Robins ride”, repartindo democraticamente o virtuosismo entre a guitarra acústica de Lucas e as congas de Danny Ballas, é encorajador. Os 7 minutos que dura a suite “Sony Boy Blues” são um puro deleite com a guitarra acústica a percorrer os trilhos do delta-blues num absoluto frenesi, hesitando entre o formalismo da tradição negra e o desvario psicadélico.
O longo “Love & Peace Raga” constitui a “pièce de resistance” do disco. Perfeito na forma e no conteúdo, oferece-nos uma guitarra que poderia ter sido tocada por Robbie Basho ou John Fahey ( é verdade, Ted Lucas era também um excelente instrumentista ) enquanto lá atrás, como que servindo de lastro, a tambura de Carol Lucido sustenta toda a improvisação do solista. Notável.
Os meus receios iniciais revelaram-se afinal infundados. Para apreciar o disco bastará escolher os temas certos. “Ted Lucas” é um daqueles álbuns que viveria bem melhor no formato de EP.