10/05/10

"Through a faraway window, a tribute to Jimmy Silva


Os álbuns de tributo não são muito populares aqui pelo Atalho. Quase tão irritantes como a generalidade dos discos ao vivo, são por norma uma feira de vaidades onde um conjunto de nomes procura insinuar-se junto de um público fiel aos artistas que dizem “homenagear”. No entanto, como em tudo na vida, há excepções. Estas correspondem a tributos genuínos e nascem de forma espontânea, desinteressada. Exemplos disso mesmo são as recentes abordagens às obras de Mark Mulcahy, Jeffrey Lee Pierce e, agora, Jimmy Silva.

Natural de San Mateo/California, onde nasceu em 1952 filho de um português, Jimmy Silva foi um talento maior que percorreu em silêncio as décadas de 70, 80 e 90 e, ainda hoje, 15 anos após a sua morte (ocorrida na ante véspera do Natal de 1994 e motivada por um improvável ataque de varicela ), permanece um dos grandes segredos do folk-rock americano. Está todavia na altura de o seu nome deixar de ser referido em surdina por meia dúzia de fãs e/ou contemporâneos.



Estes comparam-no frequentemente a Brian Wilson; pelo talento, pela fobia aos palcos e absoluta incapacidade para lidar com o meio artístico. Porém o talento de Silva será mais fácil de encontrar naquele ponto imaginário que resulta do cruzamento das personalidades criativas de Sal Valentino/Gene Clark/Peter Buck, isto é: Beau Brummels/Byrds/R.E.M.. A sua música incorpora a matriz melódica dos primeiros, a inovação pioneira dos segundos e a versatilidade instrumental de “Chronic Town” e “Murmur”.

Quando em 1973 Silva começou a escrever as primeiras canções e a gravar cassetes, os “compadres” eram sobretudo Scott McCaughey ( mais tarde Young Fresh Fellows, Minus 5 e R.E.M. ) e Dennis Diken ( The Smithereens ) e, com maior ou menor intermitência, assim continuaram ao longo dos anos.



É pois sem surpresa que os encontramos ao lado do jornalista californiano Jud Cost e de outros “luminarios” (Sal Valentino, Roy Loney, John Wesley Harding, Jon Auer, Chris Eckman, Kim Wonderley, Eric Scott ) na concepção e realização de um “Through a Faraway Window” que, ao longo dos 29 temas percorre algumas das melhores criações de Jimmy Silva para os álbuns originais: “Remnants of the empty set” ( 1986 ), “Fly like a dog” - uma paródia a “Fly like an eagle” de Steve Miller - ( 1987 ), “Heidi” ( 1990 ) e “Near the end of the Harvest” ( 1995 ).

Nada, mas mesmo nada, asseguro-vos, substitui a audição dos originais de Jimmy Silva. Porém, como eles são o que há de mais parecido com os óvnis ( muitos afirmam terem-nos visto mas as provas escasseiam ), o mais seguro é deitarem rapidamente a mão a “Through a faraway window”. Através dele também é possível avaliar o talento de um dos maiores melodistas que o folk-rock americano ( não ) conheceu entre 1975 e 1995.